A batalha do sono começa às 20h na casa da dentista Viviane Souza. É sempre nesse horário que ela inicia os preparativos para colocar sua filha Lívia, de 2 anos, para dormir. Depois de horas de negociação, finalmente por volta 23h, ela pega no sono, deixando pra trás uma mamãe exausta e cheia de afazeres para encerrar o dia. “Dois anos sem dormir. Pareço um zumbi (rs). Pior que quando ela dorme, ainda vou arrumar a mochila da escola, preparar as coisas para o outro dia… Quando deito, desmaio.”
Uma pesquisa conduzida online pela Ipsos Public Affairs para a plataforma de streaming Netflix, revelou que Viviane não é a única mãe a sofrer com isso. De acordo com os dados levantados com famílias em sete países, 61% delas lidam com as mesmas artimanhas criativas dos filhos na hora de irem para a cama.
São as famosas “desculpas” para evitar o sono. Vão desde frases como “Tem um monstro embaixo da minha cama!”; “Preciso muito fazer xixi!”; “Posso beber água?” até choros incansáveis e irritabilidade.
A pesquisa destacou que as crianças brasileiras são as melhores negociadoras. Os pais no Brasil disseram que as táticas dos pequenos funcionam com frequência (52% x 44% da média global) e as crianças são as que mais usam o famoso “só mais cinco minutinhos” na negociação (51% x 42% globalmente).
Tevê desligada
Viviane explica que, quando inicia “os trabalhos” da guerra do sono, a primeira providência é desligar a tevê. “Normalmente lá pelas 20h já não deixo minha filha fazer nada que a desperte muito, como assistir ‘Galinha Pintadinha’, por exemplo. Procuro deixá-la mais quietinha no sofá.”
Em seguida, ela dá a última mamadeira do dia. “Falo para ela fechar o olho e dormir. Aí começa a briga. Somente 1 em cada 10 dias ela dorme de primeira”, relata.
Daí tem início uma maratona: a pequena abre o olho, senta no berço, pede outra mamadeira, depois outra, e outra… Pede para a mãe se deitar com ela, abraça, beija, tudo para não dormir. O limite para Viviane é quando o relógio chega às 23 horas e a filha ainda não dormiu. “Aí eu a coloco no berço com a chupeta, falo que precisa dormir e saio do quarto. Ela grita por aproximadamente quatro minutos e dorme como um anjinho”, ressalta.
Dormir é necessário
O sono é um momento sagrado para o organismo. O pediatra Clay Brites explica que ele propicia o crescimento e a memorização do que se aprende durante o dia, além de regular o humor e melhorar a atenção diurna. “O cérebro da criança é muito ativo e com funcionamento mais intenso do que o dos adultos. Além disso, ela está em fase de crescimento e este processo exige muito mais dos órgãos e sistemas”, salienta.
A função do sono vai além do descanso. Enquanto a criança dorme, o cérebro organiza as informações recebidas ao longo do dia. “Imagine que tudo o que você aprendesse durante o dia entrasse no seu cérebro sob o formato de livros, que ficariam empilhados em uma mesa, todos embaralhados. Durante o sono, estes livros seriam organizados na estante, de forma que, quando se desejasse um deles, era só ir até o local certo e pegá-lo. Se o tempo de sono for curto, não dá tempo de organizar todos os livros que estão na mesa e sobrarão alguns sem guardar. Estes ficarão fora da estante, ou seja, será informação fora da memória”, destaca texto do blog Pediatrio.
Mas qual seria o tempo necessário para que todo esse trabalho ocorresse no cérebro? Isso varia de pessoa para pessoa. Na tabela a seguir, a Associação Americana do Sono apresenta o tempo indicado de sono diário para cada faixa etária:
Idade Recomendado (min/max) Apropriado (min/max)
0-3 meses 14h / 17h 11-13h / 18-19h
4-11 meses 12h / 15h 10-11h / 16-18h
1-2 anos 11h / 14h 9-10h / 15-16h
3-5 anos 10h / 13h 8-9h / 14h
6-13 anos 9h / 11h 7-8h / 12h
Táticas de guerra
Antes que a batalha comece, o ideal é que os pais criem regras e rotina de sono. De acordo com o pediatra, a hora do descanso também deve ser ensinada aos pequenos. “As crianças, quando pequenas, encontram-se em fase de desenvolvimento e muitas vezes precisam aprender a se controlar para se silenciar e dormir. Nesta fase, elas têm que ser condicionadas pelos pais para que se acostumem com horários e momentos de descanso. Quando ainda não aprendeu esta rotina, a criança acaba chorando e se negando a se deitar para dormir”, frisa.
Além disso, outros fatores podem interferir e atrapalhar a hora de recarregar as baterias:
– hiperestímulos
– brincadeiras barulhentas e agitadas antes de ir para cama
– pais que apresentam hábitos de dormir tarde
– domicílio onde moram muitas pessoas
– crianças hiperativas
– espaço muito barulhento
Para chegar ao padrão “paz e sossego noturno”, os pais precisam ser persistentes e ensinar o filho a se desligar e se entregar nos braços de Morfeu. “Rotina e exemplo são fundamentais. Ter horários pré-definidos, pais que acalmam o ambiente previamente, preparando a criança para o momento do sono, é primordial para que ela adquira o hábito de dormir”, diz Clay.
O especialista dá ainda outras dicas importantes:
-Colocar a criança para dormir mais cedo do que os pais e silenciar o ambiente previamente
-Evitar colocá-la na frente de tevê e games
-Dormir em seu próprio quarto, o que já é possível a partir dos 3 meses de vida
-Evitar ficar balançando ou dando colo para a criança antes de dormir
-Evitar alimentos estimuladores, excitantes ou pesados à noite
Fonte: Clay Brites, pediatra.
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Este conteúdo é publicado na revista NA MOCHILA e compartilhado pelo Programa Escolas do Bem, do Instituto Noa.