Não é raro criança apresentar dor de barriga. Mas, quando ela vem forte, persistente, localizada do lado direito do abdômen e acompanhada de perda de apetite e náuseas, o sinal de alerta deve ser ligado: pode ser apendicite.
Esse é o nome que se dá para a inflamação do apêndice, uma pequena bolsa no intestino, entre o delgado e o grosso, e que não tem função no processo digestivo. “O principal sintoma é a dor abdominal, acompanhada, em 90% dos quadros, de perda do apetite. Náuseas e vômitos podem estar presentes, já a febre costuma aparecer após 24 horas de evolução”, explica o cirurgião geral Thiago Ferreira.
De acordo com ele, a apendicite é rara em crianças menores de 5 anos. Estatisticamente, ela acomete mais homens do que mulheres e também a população de países com baixa ingestão de fibras na dieta, porém não existem grupos comprovadamente com maior probabilidade de desenvolver a doença. “O que existem são condições ou situações especiais como, por exemplo, a apendicite aguda durante a gravidez”, frisa.
Atenção aos sintomas
Geralmente, tudo começa com uma dor de barriga intensa e persistente, que pode se iniciar no umbigo e irradiar para o lado direito. Em crianças entre 5 e 12 anos, esse sinal aparece em mais de 80% dos casos, seguido de náuseas e perda do apetite. Também podem ocorrer vômitos, febre e diarreia. “Classicamente a dor é descrita de forma mal caracterizada, às vezes como um desconforto, de início na região acima ou ao redor do umbigo, que evolui após aproximadamente 12 horas, localizando-se no quadrante inferior direito do abdômen, conhecido como fossa ilíaca direita”, descreve o médico.
Diagnóstico
A dor mal localizada ao redor do umbigo, que em questão de horas migra para o lado direito do abdômen, tornando-se restrita a um ponto bem determinado, é o sintoma mais típico da apendicite. Ela acontece em mais de 60% dos casos. Geralmente, ao atender um paciente com este quadro, o médico já desconfia de apendicite.
Porém, o cirurgião geral Thiago Ferreira lembra que podem ocorrer quadros atípicos, como dor em outra localização qualquer na barriga, o que torna o diagnóstico precoce da apendicite aguda um desafio para os médicos, mesmo nos dias atuais. “Apesar do avanço tecnológico, o diagnóstico da apendicite aguda ainda é feito, basicamente, com a história clínica, o exame físico e um exame de hemograma na maioria dos casos”, resume.
Tratamento
A apendicite é um mal silencioso, impossível de prevenir e que precisa ser tratado com urgência. A cirurgia ainda continua sendo a melhor opção, embora em casos selecionados, o médico pode orientar a fazer um tratamento alternativo num primeiro momento, com a cirurgia sendo indicada em um momento posterior, segundo explica Thiago. “Normalmente os pacientes diagnosticados e operados em até 48 horas após o início dos sintomas apresentam menores índices de complicações”, ressalta.
A recuperação da operação depende do tempo, do diagnóstico e do procedimento cirúrgico necessário para a resolução do quadro. “Os pacientes operados por laparoscopia, diagnosticados com quadros iniciais, normalmente se recuperam rápido, deixando o hospital após dois dias de pós-operatório. Já os pacientes submetidos a cirurgias de maior porte, como a laparotomia exploradora com necessidade de ressecção de segmentos intestinais, podem permanecer internados, para recuperação, durante semanas”, detalha o médico.
Pode complicar
Embora seja resolvida com uma cirurgia comum e sem grandes consequências, a apendicite, se não for tratada, pode causar peritonite (infecção generalizada da cavidade abdominal), já que o apêndice inflamado pode estourar e bloquear o intestino. A peritonite pode ser fatal.
Texto de Rose Araujo
Fonte: Thiago Ferreira, médico cirurgião geral, membro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões