A sociedade passa por mudanças significativas que influenciam diretamente a infância da criança no modo de pensar e agir e, consequentemente, na forma e na importância do brincar infantil.
Há necessidade de maior número de espaços lúdicos livres e seguros nas grandes metrópoles, propícios para as famílias interagirem. Porém, mesmo contando com um número reduzido, nesses espaços pode ser observado que as crianças são isoladas sem horizonte, prisioneiras diante da tecnologia, cuja interatividade pouco as proporciona.
Além de desencadear emoções simuladas, deteriora a qualidade de vida infantil da qual um dos melhores indicadores é o movimento corporal associado ao brincar. Por isso, vejo a importância do brincar inventivo, favorecendo o desenvolvimento saudável da criança, com a conexão e o fortalecimento dos vínculos familiares.
Por meio do brincar compartilhado e das brincadeiras divertidas com a família ou amigos, a criança toma conhecimento dos valores da sua família, além da sua cultura e perpetua a cultura popular, com a diversidade de brincadeiras que compõe nosso cenário cultural, além de estimular a cooperação, a socialização e a integração das regras morais impostas nos jogos.
É motivo de nostalgia verificar que as “brincadeiras de quintal” são apenas referências de um passado desconhecido, coisas dos tempos das vovós. É nessa perspectiva que se apresenta a necessidade do resgate desse tipo criativo do brincar, com a finalidade de oportunizar as crianças uma infância renovadora, respeitando seus interesses e curiosidades, com uma construção e até mesmo releitura das brincadeiras que favorece a socialização e principalmente a afetividade.
Afetividade? Como estimular a afetividade usando uma tela fria? Onde fica o abraço, o olho no olho?
A afetividade está intrinsicamente presente no ato de brincar, porque estimular a criança a construir seus próprios brinquedos no mundo do faz de conta é estimulá-la a se apaixonar pela criatividade, demonstrar que pode reutilizar e transformar sucatas em verdadeiras obras de arte de uma infância inventiva. Afinal, brincar não é ficar sem fazer nada. Pelo contrário, para a criança é uma atividade que lhe ensina a viver e conviver com seus semelhantes. Uma brincadeira tem uma representação para um adulto, mas para a criança é a própria transformação da realidade, porque viver para a criança é simplesmente brincar.
Muitos pais e professores perdem oportunidades de desenvolver o brincar divertido com as crianças porque a maioria das famílias simplesmente anseia pelos resultados de uma educação tradicional, pautada em competição, o que “engessa” a capacidade criativa da criança e deixa de lado essa ferramenta primordial para seu desenvolvimento. Como afirma VYGOTSKY (2010), é popular a concepção de brincadeira como desocupação, como passatempo a que se deve dedicar uma hora. Por isso, não se costuma ver na brincadeira nenhum valor e, no melhor dos casos, considera-se que ela é a única fraqueza da fase infantil, que ajuda a criança a experimentar o ócio durante certo tempo.
Por isso, vale incentivar nos lares e nas escolas o brincar infantil porque favorece o engajamento, ou melhor, a parceria divertida em cada comunidade. Assim, a criança terá um melhor convívio social, uma formação de vínculos de amizade e visará o bem comum.
As brincadeiras podem variar com momentos de cooperação e integração, competição, iniciativa pessoal, rapidez de reação, habilidades corporais e manuais. Atualmente, nossa sociedade é extremamente competitiva, além de apresentar tecnologia que cada dia mais afasta as pessoas umas das outras. Nesse aspecto, o brincar prepara as crianças para a futura vida adulta, já que as mesmas deverão entender que para alcançarem posições mais elevadas no mercado profissional deverão passar por mudanças comportamentais e emocionais.
Há urgência em resgatar um direito infantil, nas várias possibilidades do brincar, além do resgate das manualidades que estimulam diretamente o tato presente nos diversos tipos de brincadeiras, mas a melhor brincadeira de todas é o amor que aquece as rodas das brincadeiras e, inclusive, os desentendimentos deixam as brincadeiras mais sérias porque envolvem os combinados com direitos e deveres de cada participante.
Mas o que promovem as rodas de vivências? Excelente oportunidade para professores e familiares mergulharem um pouco mais no universo infantil, a fim de explorar os sentimentos das crianças, estimular a empatia, a autorresponsabilidade e a autoconfiança, e descobrir talentos.
Os talentos surgem nas brincadeiras e são esses talentos da infância que ajudarão os futuros adultos a encontrarem forças vitais para persistirem diante dos obstáculos de suas vidas, ou seja, ressignificarão desafios em propósitos de vida. Então, que tal começar a brincar mais com seu filho?
Fonte: Vilma Farias é psicopedagoga e KidCoach, uma das criadoras do projeto www.tesourokids.com.br.
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Este conteúdo é publicado na revista NA MOCHILA e compartilhado pelo Programa Escolas do Bem, do Instituto Noa.