A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou um manual de alerta aos pais sobre os impactos da tecnologia e do mundo digital na saúde das crianças. O material traz indicações importantes para garantir o bem-estar dos pequenos, definindo a conectividade como algo que deve ser lidado com moderação.
Confira a entrevista com a pediatra Evelyn Eisenstein, professora de pediatria e clínica de adolescentes da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e uma das coordenadoras do estudo feito pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
O Comitê Gestor da Internet (CGI) vem pesquisando uma amostra nacional, realizada entre 2014 e 2015, a TIC Kids Online Brasil, que mostra as repercussões destas tecnologias e as influências que os dispositivos e aplicativos têm sobre os comportamentos das famílias.
Os resultados são alarmantes: 80% da população entre 9 e 17 anos acessam a internet, principalmente através dos telefones celulares; e mais do que a metade dos pais nada ou pouco sabem dos conteúdos que seus filhos acessam.
Os riscos foram sendo descritos: 40% dos entrevistados já tinham sido descriminados, isso significa 9,3 milhões de crianças e adolescentes expostos aos discursos de ódio e intolerância ou violência, dos quais 20% já tinham sofrido com ofensas do tipo de cyberbullying.
Portanto, está mais do que na hora dos pais compreenderem a importância da proteção e da mediação das atividades de seus filhos on-line, e dos educadores e profissionais de saúde serem alertados sobre os cuidados de proteção também on-line. O mundo virtual é real e a violência existe!
Tudo é uma questão de limites do tempo de uso e da qualidade do afeto entre pais e filhos. A tecnologia, vídeos e jogos on-line não podem servir como chupeta digital da mesma maneira como a televisão serviu como babá eletrônica de muitos destes pais
Abandono afetivo usando tecnologias como fontes de “distração” existe cada vez com mais frequência em famílias desajustadas e que estão passando por outros problemas variados de estresse. Recomendamos, por exemplo, que na hora de comer a internet não seja usada como distração, pois é um dos momentos mais importantes da interação e da construção do vínculo afetivo.
O indicado é, inclusive, desconectar na mesa de refeições ou durante os finais de semana e, principalmente, de uma a duas horas antes de dormir, para não prejudicar o padrão de sono que é tão importante durante a fase de crescimento e desenvolvimento cerebral das crianças.
Transtornos de sono, dificuldade de dormir, irritabilidade e alterações súbitas e intensas do humor (como choros frequentes, ataques de raiva, frustração ou medo). Crianças com menos de dois anos só devem ser expostas eventualmente e sempre na presença de algum responsável; e até os seis anos, no máximo uma hora por dia.
Deixar qualquer criança ou adolescente ficar mais do que seis horas conectado é prejudicial à saúde mental, com a possibilidade de se tornar dependente ou “viciado” de tecnologia, devido à produção e liberação de dopaminas, que são neurotransmissores cerebrais que atuam no desenvolvimento cerebral. Isso pode causar problemas comportamentais disfuncionais e quedas no aprendizado e no rendimento escolar.
Os pais precisam colocar limites e estabelecer regras claras de convívio familiar. É preciso cultivar momentos sem celular, estar juntos, conversar sobre as emoções e as vivencias do dia a dia em vez de teclar emoticons.
As crianças são curiosas, mas precisam aprender que as telas não são só o que a vida tem para oferecer. Uma coisa é ver um gatinho em uma foto e outra coisa é aprender a brincar com um gatinho de verdade. São oportunidades de desenvolvimento de capacidades e habilidades psicomotoras muito além de passivamente deslizar dedinhos e mudar os jogos online.
Desconectar, conversar e abraçar seu filho, “com-viver” e não se deixar substituir por máquina nenhuma. Tecnologias são maravilhosas e vieram para ficar, mas afeto é a melhor energia da vida, essencial e insubstituível para todos os seres humanos.
O manual está disponível para download no site da SBP (www.sbp.com.br) gratuitamente.
Fonte: Evelyn Eisenstein, professora da UERJ e uma das coordenadoras do estudo feito pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
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Este conteúdo é publicado na revista NA MOCHILA e compartilhado pelo Programa Escolas do Bem, do Instituto Noa.