Se você é do tipo que trava uma verdadeira batalha contra micróbios, ácaros e afins, é melhor baixar a guarda e permitir que seus filhos ingiram pequenas e controladas doses de vitamina S (de sujeira, mesmo!). Por mais estranho que isso possa parecer, deixar a criança em contato com os vilões da higiene também pode trazer benefícios à saúde dos pequenos (desde que o bom senso prevaleça, é claro!).
Contato com o ambiente
A medicina ainda tem vários pontos de interrogação sobre essas questões, mas uma coisa é certa: o excesso de esterilização não é nada bom para as crianças. “Não é possível criar o filho num ambiente estéril. Além disso, o contato dele com determinados patógenos é importante para que se produza os anticorpos contra eles”, explica a pediatra Patrícia Manzini.
Isso significa que as neuras e preocupações demasiadas devem ser deixadas de lado. Criança saudável engatinha no chão da sala, tem contato com terra e pode brincar com animais de estimação (desde que não sejam alérgicas a eles). Explorar o ambiente ajuda no desenvolvimento cognitivo e também aumenta os anticorpos.
Hora de se sujar!
Não tem nada mais gostoso do que liberdade para brincar! Jogar bola, correr pelo parque, escorregar, deitar e rolar na grama… isso lhe trouxe alguma lembrança da infância? Pois é, ainda nas décadas de 70 e 80, era normal encontrar os pequenos desenhando com tijolos nas calçadas e usando casca de banana para pular amarelinha. Hoje, tudo está bem diferente! Essas mesmas crianças que cultivavam os hábitos citados acima transformaram-se em pais ávidos por um paninho com álcool e muita limpeza em volta de seus bebês.
Claro que estamos generalizando a situação, mas essa mudança de comportamento existiu e tem comprovação científica. Kfouri explica que antigamente (década de 60 e 70) era grande o número de doenças causadas pela falta de saneamento básico e poucos hábitos de higiene. Foi preciso muita conscientização e campanhas para mudar esse cenário. “Foi daí que nasceu a mania pela esterilização. Tudo era fervido, por recomendação dos próprios médicos. Era uma maneira de se livrar dos vírus que causavam cólera, diarréia, hepatite A…”, destaca o médico.
Ao mesmo tempo em que foi extremamente positivo, isso trouxe como conseqüência a neurose por limpeza e as alergias. “Aumentaram os casos de rinite, asma, dermatite atópica. Percebeu-se que as manifestações alérgicas eram mais frequentes em crianças tão rigidamente esterilizadas, ou seja, que tinham baixa imunidade”.
Portanto, essa exposição aos agentes externos é um mal necessário, pois modula o sistema imunológico da criança.
Texto Rose Araujo
Fontes: Patrícia Manzini é pediatra;
Renato Kfouri é pediatra e diretor da Sociedade Brasileira de Imunização (Sbim)