Quando nasce um bebê, entra em cena na vida dos pais uma série de dúvidas sobre como cuidar de um ser tão pequeno e frágil. No entanto, existe uma parte do corpo dos pequenos que nem sempre recebe a devida atenção: os olhos. Há algumas doenças oculares que podem surgir nos primeiros dias e passarem despercebidas. É o caso da obstrução das vias lacrimais. Geralmente os sintomas começam entre o 10º e 12ª dia de vida.
“Muitas vezes, a criança apresenta lacrimejamento, acompanhado de conjuntivites rebeldes ao tratamento ou excesso de secreção, e os pais não imaginam que isso pode estar associado a uma obstrução congênita das vias lacrimais”, explica a oftalmologista Rita de Cássia Lima Obeid.
Os pontos lacrimais localizam-se nas pálpebras superiores e inferiores no canto interno dos olhos. Quando a lágrima é produzida, no canto lateral superior, ela percorre a superfície ocular e é drenada por esse sistema de ductos até a região nasal e, posteriormente, para a garganta. Porém, essa área pode ficar obstruída, dificultando a passagem.
“Uma das principais causas dessa obstrução é a presença de uma membrana na junção entre a via lacrimal e as fossas nasais. Podendo ainda ser consequência de um bloqueio ósseo na região e mesmo de um tampão mucoso, que nada mais são que restos de células acumuladas no final do ducto”, diz a médica.
É uma afecção bem comum nas crianças pequenas, pois pode acontecer dessa membrana – que é geralmente rompida durante o parto – continuar no duto, obstruindo-o.
Os sintomas principais são o lacrimejamento excessivo – que ocorre em 90% dos casos, seguidos de conjuntivites de repetição, infecções oculares e excesso de secreção. Segundo a especialista, cerca de 85% dos casos de obstruções desaparecem espontaneamente. Porém, algumas situações exigem maiores cuidados.
Assim, quanto antes descoberto o problema, melhor. Com o passar dos anos, o procedimento para desobstrução das vias lacrimais vai ficando mais complexo. “O tratamento varia dependendo da época do diagnóstico. Sempre começamos pelo tratamento clínico, com realização de massagens regulares na região. Caso não dê resultado, partimos para a sondagem, que insere um fio no sistema de drenagem para romper a membrana remanescente. Em alguns casos, pode ser necessário fazer a reconstituição, mas hoje existem técnicas bem modernas, como por via endonasal”, detalha a especialista.
Mas nem só de obstrução sofrem os olhos dos bebês. Existem outras doenças oculares que podem atingir os pequenos nos primeiros anos ou mesmo durante a vida toda, como o retinoblastoma – um tumor maligno dos mais frequentes na infância – que pode ter origem hereditária ou outras causas. Nesse caso, alguns sinais, como estrabismo, olhos vermelhos, pupila branca, olhos de cores diferentes (heterocromia) podem ser indícios da doença.
Algumas crianças podem nascer ou desenvolver catarata congênita, que gera sintomas como pupila branca, desvio ocular, fotofobia, dificuldade de fixar ou seguir objetos e oscilações repetitivas e involuntárias nos olhos (nistagmo). A catarata pode ser causada por malformações congênitas, infecções intrauterinas, síndromes genéticas, alterações metabólicas, hereditariedade, uso de medicamentos, radiação ou outros fatores.
Há ainda o glaucoma congênito, que provoca aumento da pressão intraocular e pode causar cegueira. Pode ter origem em anormalidades oculares ou sistêmicas, bloqueio do fluxo aquoso e mesmo em virtude de processos inflamatórios. Nesse caso, os sintomas principais são lacrimejamento, fotofobia, córnea azulada e alteração no tamanho do olho. Ao identificar alguns desses sinais é importante procurar um oftalmologista. A partir do primeiro ano já é recomendado que a crianças frequentem esse especialista
regularmente.
Fonte: Rita de Cássia Lima Obeid, oftalmologista.
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Este conteúdo é publicado na revista NA MOCHILA e compartilhado pelo Programa Escolas do Bem, do Instituto Noa.