As mulheres em idade reprodutiva correspondem a quase 50% das pacientes submetidas à cirurgia bariátrica. Após essa cirurgia, no entanto, o corpo sofre inúmeras transformações e precisa passar por um período de adaptações. O ideal, segundo especialistas, é que se espere um mínimo de 18 meses antes de engravidar, sendo que o ideal é que a gestação aconteça após 2 anos. Este é o período médio que o organismo leva para estabilizar o processo de emagrecimento, inclusive as taxas hormonais femininas.
“Uma gestação nos primeiros seis meses após a cirurgia pode gerar muitas intolerâncias, vômitos e deficiências nutricionais intensas, necessitando, às vezes, reposição de vitaminas por injeções endovenosas ou intramusculares”, comenta o cirurgião especialista em gastroplastia, Ivan Sandoval de Vasconcellos.
Já para o bebê, um dos maiores riscos é a prematuridade. Alguns estudos apontam risco de 50% de nascimentos prematuros quando a gestante engravida antes de completar um ano da cirurgia, além dos riscos de baixo peso do feto ao nascer.
De acordo com a ginecologista, Carla Montaldi Maruxo Youssef, devido à redução de peso, muitas mulheres cursam com irregularidade menstrual e acreditam ter maior dificuldade de engravidar; quando, na verdade após a cirurgia podem ter um aumento da fertilidade. Portanto, para evitar a gravidez principalmente nos primeiros 18 meses pós cirurgia, é importante utilizar métodos contraceptivos adequados.
Vale frisar que um bebê tem mais chances de nascer saudável após a cirurgia de redução de estômago do que durante a obesidade. Isso porque, conforme explica Dr. Ivan, quando a gestante tem sobrepeso existe o risco de problemas como hipertensão, pré-eclâmpsia, diabetes e parto prematuro. “Há também mais riscos de complicações no parto normal ou cesárea, como acontece em qualquer cirurgia que o obeso precise fazer. Os exemplos são hemorragia, infecções, dificuldade na cicatrização ou até mesmo problemas respiratórios e a tão temida embolia pulmonar”.
Mesmo assim, o médico explica que a gravidez de uma mulher que já passou pela bariátrica inspira cuidados especiais. Segundo ele, “é importante fazer um acompanhamento multidisciplinar com ginecologista, nutricionista, endocrinologista e psicólogo para garantir uma gravidez mais saudável tanto para a mãe quanto para o bebê”. Confira a seguir quais são os principais cuidados que a mulher precisa ter durante a gravidez:
Devido ao rápido emagrecimento provocado pela cirurgia, as mulheres podem apresentar falta de alguns nutrientes essenciais, o que pode prejudicar uma gravidez. Assim, é importante preparar o organismo antes de engravidar e, se orientado pelo médico, fazer suplementação com vitaminas específicas. A ginecologista explica que esses elementos vão fortalecer o desenvolvimento do bebê e evitar problemas dos sistemas imunológico e neurológico.
Dr. Ivan conta que as vitaminas que podem ter mais problemas na absorção via oral são as do Complexo B e o Ferro. Eventualmente, é necessário que essas vitaminas sejam administradas via intramuscular ou endovenosa. Há variação, porém, conforme a técnica cirúrgica, características pessoais, e aderência às boas práticas alimentares orientadas.
Além dos cuidados com o equilíbrio nutricional, a gestante deve acompanhar o ganho de peso para evitar que volte a desenvolver obesidade durante a gravidez e, ao mesmo tempo, garanta o desenvolvimento saudável do bebê.
O controle alimentar é fundamental durante toda a gravidez, sendo necessário fazer refeições mais frequentes e evitar alimentos ricos em açúcar. É possível que a gestante pós-cirurgia bariátrica sofra com sintomas como azia, vômito, dores abdominais e hipoglicemia com maior frequência do que quem não passou pela cirurgia. Dessa forma, é o acompanhamento nutricional com uma dieta equilibrada e fracionada que ajudará a reduzir os desconfortos para uma gestação mais tranquila.
O médico explica que essa é uma das principais questões que a mulher deve cuidar durante a gravidez. A perda de peso após a bariátrica é tão intensa que algumas pessoas sentem um forte abalo emocional.
No caso de gravidez, as alterações hormonais somadas podem potencializar o impacto emocional da cirurgia. Por isso, é recomendado acompanhamento psicológico durante toda a gestação. “O equilíbrio emocional da gestante é tão importante quanto a saúde física e não deve ser ignorado”, lembra Dr. Ivan.
Por fim, o médico ressalta que a gestante terá que seguir os mesmos cuidados que qualquer paciente que tenha realizado a bariátrica e, se o período inicial de 18 meses for cumprido e houver acompanhamento médico adequado, ela estará totalmente apta para ter um bebê. “Tendo todos esses cuidados, a mulher terá uma gestação melhor do que se estivesse obesa”, reforça.
Fonte: Dr. Ivan Sandoval de Vasconcellos, cirurgião especialista em Gastroplastia da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo; Dra. Carla Montaldi Maruxo Youssef, ginecologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
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Este conteúdo é publicado na revista NA MOCHILA e compartilhado pelo Programa Escolas do Bem, do Instituto Noa.