Foto: Canstock.
A infecção urinária não é doença exclusiva dos adultos – estima-se que cerca de 8% das meninas e 2% dos meninos apresentarão o problema pelo menos uma vez até os oito anos de idade. Segundo o nefrologista Carlos Alberto Caniello, a infecção do trato urinário é uma das mais frequentes infecções bacterianas do ser humano e pode se manifestar com quadros simples e isolados até quadros complexos e graves, que se associam a outras doenças.
“Até um ano de vida, os meninos são os mais afetados, principalmente quando existe a fimose. Depois disso, as meninas passam a ser mais afetadas por uma questão anatômica: a uretra, que é o canal que liga a bexiga até a saída do xixi, é mais curta na menina, o que facilita a entrada da bactéria, além disso, há a proximidade com o ânus”, explica o urologista e cirurgião infantil Luiz Felipe de Araujo Campos.
Diagnóstico mais difícil
Detectar qualquer problema de saúde em crianças é mais complicado porque, até certa idade, elas não descrevem os sintomas. Os sinais que a infecção urinária pode dar são ardência ao urinar, dor no baixo ventre e vontade de ir ao banheiro várias vezes, porém, eles podem passar despercebidos na infância. Assim, os adultos devem reparar se a criança apresenta urina turva ou avermelhada, está mais quieta ou tem febre. “Algumas vezes, a urina nem chega a ficar escura, mas, se a criança tem febre, é comum investigar a infecção urinária na consulta”, acrescenta o urologista.
Assim, o ideal é levá-la ao médico assim que notar alguma mudança de comportamento ou na urina, principalmente nas crianças menores, ou quando as maiores se queixarem de algum sintoma. “O diagnóstico é feito, basicamente, com dois exames: a urina tipo 1, que mostra se há células de defesas e bactérias na urina (a urina normal é estéril, não apresenta bactérias) e a urinocultura, que pode identificar o tipo de bactéria por trás da infecção”, informa Campos.
É preciso tratar!
A infecção urinária simples, chamada de cistite, que atinge apenas a uretra e bexiga, às vezes nem apresenta sintomas, porém, se não for tratada, pode comprometer os rins, provocando a chamada pielonefrite, que é acompanhada de febre e/ou dores lombares. Existe o risco de essa complicação afetar o funcionamento dos rins, o que pode resultar em uma doença renal crônica, ou até da infecção se espalhar pelo organismo.
“O tratamento da infecção urinária tem o objetivo de erradicar as bactérias presentes na urina. Habitualmente, é feito com a utilização de antibióticos”, revela o nefrologista. O medicamento, que só deve ser usado com orientação médica, geralmente é específico para a bactéria causadora da infecção, daí a importância de ter um diagnóstico preciso. Além disso, é fundamental levar o tratamento até o fim. Muitas vezes, os pacientes ou, no caso das crianças, os adultos responsáveis param o tratamento no meio, quando os sintomas já não estão mais presentes, por acharem que a doença já está curada. “Os antibióticos são prescritos, em geral, por 10 a 15 dias. As bactérias mais fraquinhas morrem no início do tratamento, mas as mais resistentes morrem só no final. Então, se o tratamento não é completo, há chances de sobrarem as bactérias resistentes”, explica o urologista.
Medidas que previnem
Até mesmo os bebês podem sofrer com a infecção urinária, responsável por 7,5% dos episódios de febre em crianças com menos de oito semanas de vida. Assim, a primeira dica para prevenir é trocar as fraldas regularmente. “Apesar de a maioria das fraldas ter uma boa capacidade de absorção, não é recomendado deixar o bebê com a fralda suja por muito tempo. Este pode ser um fator de risco para a infecção”, explica Campos.
“Higienização adequada, ingerir bastante água e urinar periodicamente também podem ajudar a evitar o problema”, acrescenta Caniello. Os pais devem, portanto, ensinar as crianças sobre os hábitos adequados, explicando, por exemplo, que a vontade de ir ao banheiro deve ser respeitada.
Já o papel do médico é, logo na primeira infecção apresentada, investigar a causa para evitar infecções recorrentes, que podem levar à perda da função renal. “Uma das causas pode ser o refluxo da urina, que é um problema congênito e precisa ser investigado quando a criança apresenta infecções de repetição. O refluxo é dividido em vários graus e existem tratamentos cirúrgicos e clínicos. Em um grau baixo, pode desaparecer com o tempo, mas é preciso cuidar para evitar a infecção nesse período. Algumas crianças recebem o que chamamos de antibiótico-terapia profilática, ou seja, a criança é diagnosticada com o refluxo e recebe o medicamento para evitar a infecção até o problema sumir”, explica Campos. Já o refluxo mais acentuado tem indicação cirúrgica.
Bebês protegidos
Principalmente em crianças com menos de três anos, o diagnóstico é mais complicado pela falta de expressão dos sintomas, o que torna a atenção dos pais ainda mais importante. É fundamental procurar um médico caso a criança apresente urina com cheiro ruim, turva ou com sangue; choro ou reclamação na hora de fazer xixi; falta de apetite; irritabilidade sem explicação e febre. Algumas dicas para reduzir os riscos de contrair o problema são:
– Na hora da troca da fralda das meninas, fazer a higiene da frente para trás e sempre descartar o lenço ou algodão, pegando um novo se necessitar limpar novamente;
– Não deixar a criança com a fralda suja por muito tempo. Quando for ficar muito tempo fora de casa, levar várias trocas como prevenção;
– Depois do cocô, lavar o períneo com água e sabão e secar bem. O hábito pode ser incentivado em crianças que já não usam mais fralda e fazem sua própria higiene.
Texto de Marisa Sei
Fontes:
Carlos Alberto Caniello é nefrologista
Luiz Felipe de Araujo Campos é urologista e cirurgião infantil