As funções executivas estão presentes em quase todas as atividades do dia a dia, desde os primeiros anos de vida. Quando uma criança aprende a contar de um a dez, quando brinca de “estátua”, quando participa de uma cantiga de roda junto aos colegas – mesmo quando parece não estar fazendo nada além de ouvir a professora contar uma história, ela está exercitando habilidades fundamentais, que aplicará ao longo de toda a vida, de forma cada vez mais sofisticada: são as funções executivas.
O termo refere-se ao conjunto de processos cognitivos e metacognitivos que permitem ao indivíduo ter controle, consciente e deliberado, sobre suas ações, pensamentos e emoções. Somos capazes de pensar antes de agir, planejando e executando ações das mais corriqueiras, como amarrar os sapatos, às mais complexas, como dirigir um veículo.
Podemos focar nossa atenção em uma tarefa, filtrando possíveis distrações, assim como podemos executar mais de uma tarefa simultaneamente. A todo o momento, recebemos novas informações e estímulos do mundo, armazenando-os, processando-os ou descartando-os de acordo com nossos interesses e objetivos imediatos. Na maior parte do tempo, sabemos controlar nossos impulsos e adequar nosso comportamento a diferentes circunstâncias.
Tais habilidades afloram e têm seu período sensível de desenvolvimento entre 0 e 6 anos de idade, o que torna o ambiente pré-escolar tão crítico para a formação integral do indivíduo. “Estudos recentes sobre as Funções Executivas recomendam aproveitar a plasticidade cerebral característica da primeira infância”, diz a diretora do Colégio AB Sabin, Mônica Mazzo, referindo-se ao fato de que essas habilidades estão diretamente ligadas a regiões do cérebro cuja arquitetura básica é construída nessa fase da vida, a depender dos estímulos recebidos.
“Quanto mais exercitarmos as Funções Executivas na Educação Infantil, mais elas sairão fortalecidas, servindo de base para o desenvolvimento de processos cognitivos e socioemocionais mais complexos nos anos seguintes. O que hoje é a capacidade de contar ou ouvir uma história, amanhã será a capacidade de compreender textos, fazer cálculos, solucionar problemas, construir relações interpessoais saudáveis, manter o equilíbrio emocional, etc. E é fundamental que o educador dos anos iniciais tenha isso em mente, não apenas para promover um ambiente estimulante, mas para identificar cedo quaisquer sinais de problemas”, diz Mônica.
As dimensões das Funções Executivas
Em linhas gerais, a memória de trabalho é a capacidade de reter informações e relacioná-las com outros conhecimentos prévios, durante o tempo necessário para a realização de uma ou mais atividades. Para compreender um texto, uma criança precisa ter em mente o que acabou de ler; para fazer duas coisas ao mesmo tempo – como pular corda e contar os saltos –, é preciso não esquecer nem de pular na hora certa, nem do ponto em que se está na sequência numérica.
O controle inibitório diz respeito à capacidade de filtrar tudo o que não contribuir para os propósitos da atividade. Trata-se de ter controle sobre os próprios pensamentos e comportamento – por exemplo, concentrando-se apenas em acompanhar a música na roda ou aguardar a sua vez de falar na aula – e também de conseguir conter as próprias emoções, como a impaciência, a excitação ou a frustração.
Já a flexibilidade cognitiva se refere à capacidade de se adaptar às circunstâncias, de “mudar de marcha” na forma de pensar ou de se comportar. É o que ocorre quando uma criança aprende que as regras de conduta na biblioteca são diferentes das regras no pátio da escola ou quando descobre que precisa rever sua estratégia para vencer um jogo.
Veja quais são as habilidades fundamentais que acompanham o crescimento de uma criança com bom funcionamento executivo:
Memória de Trabalho
– Organizar ou recontar uma narrativa com a cronologia correta dos eventos;
– Seguir instruções de tarefas com uma ou mais etapas;
– Manter em mente informações recém-ouvidas ou lidas para aplicá-las a uma meta;
– Fazer cálculos matemáticos mentalmente.
Controle Inibitório
– Esperar a vez de falar, sem interromper interlocutores;
– Pensar antes de falar ou agir, considerar alternativas e controlar impulsos;
– Manter a concentração e o foco em uma ou mais tarefas;
– Controlar a intensidade de emoções como raiva, tristeza ou frustração.
Flexibilidade Cognitiva
– Lidar bem com mudanças de planos ou rotina;
– Resolver problemas com criatividade e mudar de estratégias para resolvê-los;
– Ser capaz de se desapegar de detalhes e pensar no todo.
Fonte: Revista NeuroEducação, nº 9 (mar. 2017).