O sarampo já pode ser considerado uma doença erradicada do Brasil. Em julho passado, o Comitê Internacional de Especialistas de Avaliação e Documentação da Sustentabilidade do Sarampo nas Américas (CIE) confirmou que o vírus que causa a doença já não circula mais no território brasileiro.
A expectativa agora é que a Organização Mundial da Saúde (OMS) emita, até o final do ano, o certificado de eliminação do sarampo em todo o continente americano.
Será a primeira região do mundo onde isso acontece. O mesmo ocorreu em 2015 com a rubéola e a síndrome da rubéola congênita. Mais do que um título, esse reconhecimento é de grande importância para a saúde pública.
“Essa conquista de eliminar se deve, sem dúvida, às campanhas de vacinação que fizemos”, salienta a médica infectologista Rosana Richtma, membro do Comitê de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Com um sistema de vacinação pública considerado exemplo, o Brasil já conseguiu erradicar várias doenças. Além de sarampo e rubéola, há também a varíola e a poliomielite.
“A varíola foi a primeira doença que podemos falar em erradicação global. No Brasil, temos paralisia infantil (pólio) como exemplo de erradicação – o último caso foi documentado em 1991.
Com relação a esta doença, só não dá pra falar em erradicação global porque há alguns países na África e na Ásia que ainda reportam casos. Mas o objetivo é chegar a isso”, reforça a médica.
São poucas as doenças que podem ser consideradas erradicadas – seja do Brasil ou em outros países. Rosana explica que o processo para esta conquista é bem complexo e leva anos e anos até que se tenha certeza de que o vírus não circula mais.
“Existe um desejo enorme de conseguir erradicar algumas doenças, como a hepatite A, por exemplo. Mesma coisa com a hepatite B, ou seja, são doenças imunopreveníveis, mas não vejo num curto espaço de tempo a erradicação.
São pouquíssimas as doenças na história da humanidade que a gente fala que estão erradicadas”, destaca Rosana.
Rosana Richtma explica que o Programa Nacional de Imunização (PNI) é extremamente eficaz e democrático. As vacinas aplicadas na rede pública são muito seguras e estão disponíveis a toda a população, perfazendo a imunização das principais doenças.
“Temos no nosso país um programa nacional invejável, excelente, em várias faixas etárias. E estamos cada vez mais ampliando o calendário contra diversas doenças”, diz.
Porém, nas clínicas particulares está disponível um “plus” da vacinação, ou seja, é possível encontrar doses contra algumas doenças que não estão acessíveis nos postos de vacinação.
“Algumas vacinas estão na rede privada e ainda não estão na pública por uma razão de custo x efetividade, por não ter disponibilidade de um número tão grande de vacinas para a população como um todo. Como a do meningococo B.
Apesar da doença ser muito grave, a vacina é recente e, devido ao seu elevado custo, neste momento ela está apenas na rede privada”, explica a médica.
Outro caso é o da vacina contra o HPV, que previne contra o câncer de colo de útero. Nos postos, ela está disponível apenas para meninas de 9 a 13 anos. Mas nas clínicas pode ser aplicada também em mulheres de até 45 anos e em homens de até 26 anos.
“Outra diferença é que as vacinas da rede privada são menos reatogênicas, ou seja, causam menos reação. Uma das vacinas importantes neste aspecto é a tríplice bacteriana de células inteiras, na rede pública, e a acelular na rede privada, que causa muito menos reação”, explica Rosana.
Muitas delas já estão sob controle, mas não erradicadas. Ou seja, embora menos incidentes, podem voltar a qualquer hora, caso não seja seguido um bom plano de vacinação. Veja, a seguir, 8 doenças que parecem eliminadas, mas cujos vírus continuam circulando e podem atacar a qualquer momento:
1 – Catapora – embora pouco mortal, essa doença traz muitos danos à saúde da criança, podendo levar a infecções. Causada pelo vírus varicella-zoster, cria pequenas erupções cutâneas vermelhas pelo corpo que coçam muito.
2 – Difteria – causada pela bactéria Corynebacterium diphtheriae. Atinge principalmente o nariz e a garganta. A bactéria se espalha por meio de gotículas das vias respiratórias que ficam no ar e de pertences pessoais compartilhados. Mesmo com o tratamento antibiótico apropriado, a difteria mata cerca de 10% das pessoas que contraem a doença. A Organização Mundial da Saúde estima que haja no mundo cerca de 5.000 mortes por ano provocadas pela difteria.
3 – Coqueluche – também conhecida como tosse comprida, é uma infecção respiratória altamente contagiosa causada pela bactéria Bordetella pertussis. Embora a doença possa atingir qualquer um, sua maior prevalência é em crianças com menos de 1 ano porque elas ainda não receberam todas as doses da vacina contra coqueluche.
4 – Doença pneumocócica – é o nome coletivo para as infecções causadas pela bactéria Streptococcus pneumoniae, também conhecida como pneumococo. Essa bactéria se sente à vontade em todo o corpo. Os tipos mais comuns de infecções causadas pela S. pneumoniae são as do ouvido médio, a pneumonia, a bacteremia (infecções na corrente sanguínea), as infecções do sinus e a meningite bacteriana. Existem mais de 90 tipos de pneumococos, com os dez tipos mais comuns responsáveis por 62% das doenças invasivas no mundo.
5 – Poliomielite – é uma doença infectocontagiosa aguda, causada por um vírus que vive no intestino, denominado Poliovírus. Embora atinja com maior frequência crianças menores de quatro anos, também pode ocorrer em adultos. Cerca de 1% dos infectados pelo vírus desenvolve a forma paralítica da doença, que pode causar sequelas permanentes, insuficiência respiratória e, em alguns casos, levar à morte.
6 – Tuberculose – é uma doença infectocontagiosa muito antiga, também conhecida como “tísica pulmonar”. Os pulmões são os órgãos mais afetados, mas pode acometer ainda os rins, a pele, os ossos e os gânglios. O contágio ocorre pelo ar, através da tosse, espirro e fala da pessoa que está doente. A prevenção é feita através da vacina BCG, recomendada para aplicação no primeiro mês de vida da criança.
7 – Gripe H Invasiva – também chamada de doença de Hib, é uma infecção causada pela bactéria Haemophilus influenzae do tipo B (Hib), que se espalha quando uma pessoa infectada tosse , espirra ou fala. Gripe H invasiva é uma designação incorreta porque ela não está relacionada com qualquer forma de vírus de gripe. Contudo, ela pode levar à meningite bacteriana (uma infecção do cérebro potencialmente fatal), à pneumonia, à epiglotite (inchaço severo acima das cordas vocais que torna a respiração difícil) e a infecções do sangue, das juntas, dos ossos e do pericárdio (a membrana que reveste o coração).
8 – Tétano – é uma infecção aguda e grave, causada pela toxina do bacilo tetânico (Clostridium tetani), que entra no organismo através de ferimentos ou lesões de pele e não é transmitido de um indivíduo para o outro. O tétano decorrente de acidentes se manifesta por aumento da tensão muscular geral. Já o tétano neonatal é decorrente da contaminação do cordão umbilical em recém-nascido (criança com até 28 dias de vida). Neste caso, o sistema nervoso é afetado e o tétano provoca fortes dores, fazendo com que a criança tenha contrações, chore bastante e sinta dificuldade para mamar.
O Brasil é um dos países que oferece o maior número de vacinas à população. Atualmente, o Programa Nacional de Imunização (PNI) disponibiliza mais de 300 milhões de doses anuais distribuídas entre 44 imunobiológicos, incluindo vacinas, soros e imunoglobulinas.
Conta com aproximadamente 34 mil salas de vacinação e 42 Centros de Referência em Imunobiológicos Especiais (Crie), que atendem indivíduos portadores de condições clínicas especiais e utilizam variadas estratégias de vacinação, incluindo vacinação de rotina, campanhas, bloqueios vacinais e ações extramuros.
Texto Rose Araujo
Fotos: Canstockphoto
Nossas fontes
Rosana Richtma, médica infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e membro do Comitê de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia
Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos)
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