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Ansiedade infantil: saiba como identificá-la e quando é necessário buscar tratamento

Scared little girl biting her nails

Scared girl biting her nails

Imagem: AdobePhoto.

Quem nunca quis voltar a ser criança? A infância, na maioria das vezes, é vista como uma fase da vida sem responsabilidades e sem preocupações. Mas nem sempre isso é verdade: os pequenos também podem sofrer com problemas considerados da vida adulta – e os transtornos de ansiedade são um exemplo. “Muitas vezes, acreditamos que os sofrimentos psíquicos são frutos de uma parentalidade ruim (má criação), ou de uma predisposição orgânica, genética. O que não percebemos é que a vida de uma criança é repleta de desafios e de compromissos como a vida adulta”, diz o psicólogo Marcello Accetta.

Ter um pouco de ansiedade é comum e é uma reação natural do organismo para enfrentar situações de fuga ou de luta. Atualmente, o sentimento pode se instalar antes de algum acontecimento importante, como uma prova, mudança de residência ou de escola, despedida de alguém querido, e até de coisas positivas, como a viagem nas férias. O problema é quando ele se torna frequente e começa a prejudicar o dia a dia da criança – aí, é hora de buscar ajuda profissional.

 

É preciso buscar AJUDA profissional quando a ANSIEDADE SE TORNA FREQUENTE e PREJUDICA as ações diárias da criança.

Quando não é normal

Os sintomas dos transtornos de ansiedade nas crianças são semelhantes aos dos adultos. “Devemos ficar sempre alertas quando sintomas físicos são verbalizados pela criança, ou até mesmo percebidos por algum outro adulto (muitos familiares tendem a banalizar ou minimizar o sofrimento das suas crianças)”, avisa o psicólogo. Alguns dos sinais que os pequenos podem apresentar são: taquicardia, tensão muscular, tiques nervosos, distúrbios do sono e da alimentação, sudorese e erupções na pele.

É necessário prestar atenção, também, aos eventos ou situações em que a criança tende a se esquivar. Quando esses sintomas ocorrem há um longo tempo, é hora de buscar ajuda médica. “Acredito que o tempo é longo quando a criança e os familiares disserem que é. É uma percepção da dificuldade de lidar com determinada situação e já sabem que gostariam de uma ajuda para resolver o problema”, salienta Accetta. Ou seja, se a situação está desconfortável, por que não procurar tratamento? O quanto antes o diagnóstico for feito, mais chances existem de evitar que a criança desenvolva um modo de ser ansioso até a vida adulta.

Ansioso por quê?

Diferentes fatores podem levar ao desenvolvimento de transtornos de ansiedade. Histórico familiar, por exemplo, pode aumentar as chances. “O primeiro mecanismo de aprendizado da criança é a imitação. Se os pais têm distúrbios emocionais, as crianças vão imitá-los”, alerta a psicanalista Júlia Bárány. A genética também pode influenciar, contudo, segundo os especialistas, é preciso atenção maior aos fatores ambientais. “Quando pensamos nos fatores que podem levar uma criança a desenvolver transtornos de ansiedade, devemos nos preocupar em avaliar as situações onde e como a ansiedade se manifesta prioritariamente. Por mais que identifiquemos um objeto ou situação específica, podemos perceber que a criança vai desenvolvendo um modo de ser ansioso, onde a insegurança e o temor passam a se manifestar de maneira mais global”, explica Accetta.

Responsabilidade demais

É comum que as crianças realizem atividades extracurriculares, como aulas de idioma e esportes, que ocupam grande parte do dia. Ter muitos afazeres pode aumentar a ansiedade da criança ou não, depende do modo como ela lida com essa agenda e os adultos também, já que, com o excesso de atividades, vêm também as cobranças pelo bom desempenho nessas atividades. É preciso avaliar, ainda, se existem momentos para o lazer e o descanso. Ou seja: equilíbrio é fundamental.

“Quando falamos da rotina de uma criança, ou até mesmo quando adultos, devemos pensar qual o nosso grau de envolvimento com as atividades que desempenhamos. Para que preciso tirar boas notas? Para quem? O que isso diz a meu respeito? As crianças não possuem esse grau de reflexão e o resultado medido através de notas realmente pode ser um elemento que gere ansiedade”, complementa Accetta.

O psicólogo explica que a expectativa dos familiares também é um fator que gera ansiedade, medo e terror, pois a criança teme perder o amor e a atenção. Podem ter o receio da inferiorização e de perder o lugar e o respeito do meio social com outras crianças. “As ansiedades nessas relações aparecem associadas ao valor que o outro lhe dá, como lhe avaliam, é uma preocupação excessiva em controlar como os outros lhe percebem. Não é simples resolver essa preocupação, vivemos em uma sociedade onde o nosso valor passa pela avaliação do outro”.

É preciso tratar!

Justamente por essas dificuldades de entender como a criança lida com suas preocupações, buscar o melhor tratamento é imprescindível. O acompanhamento psicológico é o primeiro passo e pode haver sessões com os familiares, com a intenção de orientá-los e colher informações, tudo o que pode tornar o tratamento mais eficaz. Durante as sessões terapêuticas, que são adaptadas para cada caso, é possível trabalhar com atividades lúdicas ou diálogos.

Em alguns casos, pode ser indicado o uso de medicamentos, contudo, esse uso precisa ser sempre bem avaliado, principalmente na infância. A criança não tem controle sobre a própria dose e os horários, necessitando dos cuidados diários de um adulto. É importante destacar, também, que com ou sem o uso de remédios, a psicoterapia é essencial.

Papel da família

É possível minimizar os sintomas ansiosos das crianças quando os adultos controlam sua própria ansiedade. Apesar de ser difícil e de também haver uma cobrança em torno da criação dos pequenos, é fundamental que pais e responsáveis criem um laço de confiança. “Cabe aos familiares mostrarem que a criança tem lugar para expressar suas preocupações e medos, criando um ambiente seguro de comunicação”, destaca o especialista.

Tanto os adultos quanto as crianças necessitam de momentos de lazer e de afeto. “A prevenção de transtornos só é possível se houver atenção e afeto dedicados à criança. Escola e lar precisam trabalhar em cooperação pelo bem dela, mas, para isso, pais e educadores precisam estar em constante processo de autoconhecimento e autoeducação. Um olhar atento, amoroso à criança em formação e um olhar atento e amoroso para si mesmo são a base para uma geração mais sadia, produtiva e feliz”, completa Bárány.

“Muitas pessoas têm a ILUSÃO de que, com o USO DE MEDICAMENTOS, o PROBLEMA É SOLUCIONADO. Se pensarmos SOMENTE a partir dessa PERSPECTIVA, acabamos DEIXANDO DE LADO questões mais originárias e TRATAMOS SOMENTE OS SINTOMAS.”
Marcelo Acetta

Por Marisa Sei
Nossas fontes:
Júlia Bárány, psicanalista
Marcelo Accetta, psicólogo

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