Todo pai e mãe já deve ter ouvido falar que, para a criança não ficar “mal acostumada”, é preciso evitar colo demais e até ignorar seu choro de vez em quando; dessa forma, ela se acostuma com a ausência dos adultos. Mas pesquisas científicas apontam que bom mesmo é dar carinho, pelo menos nos primeiros anos de vida: o afeto é necessário para o desenvolvimento dos pequenos. E o contato físico com o pais nessa fase vai influenciar até mesmo na vida adulta.
É na primeira infância o período em que as crianças mais precisam de atenção e afeto. O contato com os pais faz a diferença para o desenvolvimento saudável do bebê, e a presença do pai neste momento é fundamental.
Segundo o professor Walter Eustáquio Ribeiro, o ambiente amoroso, com uma família compreensiva e tranquila, faz com que a criança fixe melhor o conhecimento. Portanto, colo e abraço estão liberados: em vez de mimar, esses hábitos colaboram para que a criança desenvolva suas capacidades motoras e cognitivas, e ainda fortalecem o sistema imunológico. Mas o afeto familiar significa mais do que apenas o contato físico.
“Os primeiros anos de vida são o momento em que a criança mais precisa de colo, pois ela precisa se sentir segura. Quando ela começa a interagir com os pais, é hora de demonstrar que estão presentes de outras formas: conversando, mostrando interesse pelas atividades da criança, ensinando, porque é hora de ela se socializar. Quem recebe afeto fica mais seguro, inclusive, para ingressar na escola”, destaca Ribeiro.
De acordo com a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, uma das principais estudiosas em mente infantil do país, o carinho molda o cérebro nessa fase.
“São várias pesquisas científicas que comprovam o carinho físico, o toque e o contato como um moldador cerebral que torna a criança mais hábil e com o sistema de proteção orgânico mais forte. Isso acontece por causa da ocitocina, um hormônio altamente influente na formação cerebral, que é produzido durante a amamentação e liberado também no abraço, no beijo, na massagem”, explica.
Esses benefícios em relação ao desenvolvimento físico, portanto, já são conhecidos, como confirma o neurologista infantil Christian Muller.
“Tal fato ficou evidente em pesquisas com crianças em situações de fragilidade social e abandono por parte dos pais, com perceptível atraso global no desenvolvimento. Por outro lado, tão logo foram estas crianças expostas a lares afetivos e protegidos, muitas se recuperam, dependendo de um conjunto de fatores”, relata.
Segundo Christian, é na primeira infância que o desenvolvimento dos neurônios avançam, adquirindo melhores conexões entre as células nervosas, contribuindo para as funções motoras, de linguagem e social.
Ocorrem o crescimento e amadurecimento do cérebro, aquisição dos movimentos, desenvolvimento da capacidade de aprendizado, iniciação social e afetiva, entre muitos outros aspectos interligados e influenciados pelo ambiente onde a criança vive.
Segundo informações da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, o estímulo adequado às crianças de até seis anos, aliado à boa alimentação, gera benefícios que vão desde o aumento da aptidão intelectual até a formação de adultos preparados para lidar com os desafios do cotidiano. A qualidade de vida nesse período, portanto, além de ajudar no desempenho escolar, colabora para uma vida adulta mais tranquila.
Fontes: Walter Eustáquio Ribeiro, professor e vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal; Christian Muller, neurologista infantil; Suzana Herculano-Houzel, neurocientista.
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Este conteúdo é publicado na revista NA MOCHILA e compartilhado pelo Programa Escolas do Bem, do Instituto Noa.