Diversas pesquisas já associaram a alimentação durante a gestação com o desenvolvimento do feto e a saúde do bebê após o parto. Uma delas, liderada por cientistas da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, mostrou que a dieta mediterrânea, baseada em peixes, vegetais e castanhas, pode proteger o coração de bebês que ainda estão na barriga da mãe.
Para chegar a esse resultado, os pesquisadores avaliaram 19 mil mulheres, que responderam questionários sobre a alimentação no ano anterior à gravidez. Metade dos bebês nasceram saudáveis e a outra metade, com corações anormais, e as mães que seguiram dietas nutritivas como a mediterrânea eram menos propensas a ter filhos com problemas cardíacos.
Independentemente do tipo de dieta, o importante é que as gestantes sigam uma alimentação capaz de beneficiar tanto a saúde da mãe quanto do bebê. Assim, um acompanhamento nutricional desde o começo da gestação pode fazer a diferença na hora de controlar o peso e prevenir problemas.
Vitamina indispensável
Como em qualquer fase da vida, a recomendação básica durante a gestação é manter uma alimentação balanceada em nutrientes. Algumas substâncias, contudo, merecem atenção especial, pois a ausência na dieta pode provocar consequências para o feto.
“Por exemplo, o ácido fólico, que é importante para a divisão celular e para a produção de células sanguíneas e sua deficiência está ligada ao surgimento de defeitos no tubo neural do bebê, como anencefalia, encefalocele e espinha fíbia (fechamento incompleto da espinha)”, informa a ginecologista e obstetra Lilian Fiorelli.
O nutriente pode ser encontrado em verduras verde-escuras, como espinafre, agrião e brócolis e nas oleaginosas, entre outros alimentos, mas é comum que o médico receite suplementação. Esta só deve ser consumida com orientação.
“Preferencialmente na forma de metilfolato e não de ácido fólico, e normalmente até doze semanas de gravidez. Existem casos de patologias que exigem o uso contínuo do ácido fólico, até o fim da gestação”, acrescenta o ginecologista e obstetra Domingos Mantelli.
Capriche no consumo!
Ao apostar em um cardápio o mais natural possível e variando entre as opções durante a semana, já é possível obter os nutrientes necessários para manter uma gestação saudável. Entre eles, é importante não se esquecer do:
– Ferro: substância que tem papel ativo na formação das células do sangue do bebê. “As fontes de ferro bem absorvidas e aproveitadas pelo organismo são as fontes animais, como a carne vermelha. O ferro das fontes vegetais, como os grãos e vegetais verde-escuros, precisa da vitamina C para ser bem absorvido; então, sempre tenha uma fruta cítrica junto do almoço e jantar, como laranja e kiwi”, indica Lilian.
– Cálcio: matéria-prima de ossos e dentes, também é necessário para equilibrar os batimentos cardíacos e a capacidade do sangue de coagular. “As fontes de cálcio são os leites e derivados, vegetais verde-escuros e tofu. Mas não consuma laticínios junto ao almoço e jantar, pois o excesso de cálcio atrapalha a absorção de ferro. Eles são bem-vindos no café da manhã, lanche da tarde e ceia”, recomenda a ginecologista.
– Ômega-3: participa da formação do sistema nervoso e pode ser encontrado em peixes e oleaginosas. “Atenção para a procedência do peixe e se ele faz parte do grupo que tem alta concentração de mercúrio, pois estes devem ser evitados”, alerta a especialista.
O que é melhor evitar?
“Tudo que seja artificial, de preferência. Exclua refrigerantes, não faça uso de adoçantes e alimentos sintéticos que contenham muitos conservantes e evite os embutidos”, responde Domingos. Obstetra e nutricionista avaliarão cada caso para verificar a necessidade de excluir alimentos específicos, no caso de alergias, mal-estar ou problemas de saúde pré-existentes.
“Outro fator que deve ser observado é a ingestão excessiva de sódio, pois é um nutriente que retém líquido e faz com que a pressão arterial aumente. Durante a gestação, diminua a ingestão de sal e tempere os alimentos com a menor quantidade possível”, complementa Lilian. A dica é usar ervas, como orégano, cebolinha, manjericão e alecrim, e outros temperos naturais, como gengibre e açafrão.
Cuidando da balança
“Já se foi o tempo em que as gestantes acreditavam que deveriam comer por dois, período em que muitas chegavam a engordar 20kg ou 30kg e terminavam a gestação inchadas e indispostas. Hoje, é comum ver grávidas desfilando suas barrigas em harmonia com um corpo saudável e enxuto”, diz Lilian. O ideal é ganhar no máximo de 8kg a 12kg até o final da gravidez, variando de acordo com o biotipo da mulher e se a gestação é única ou gemelar.
Segundo o ginecologista Domingos Mantelli, também não é necessário engordar para que o bebê seja saudável, já que em casos que a mulher está acima do peso, os médicos recomendam uma alimentação balanceada para que ela perca peso durante a gravidez e mesmo assim tenha um bebê saudável.
Para controlar o ponteiro da balança os exercícios físicos também não devem faltar, mas precisam ser praticados somente após uma avaliação médica, que determinará frequência e intensidade permitidas.
“Durante a gestação, uma quantidade maior de energia é necessária para que o bebê seja formado. Assim, é importante consultar um nutricionista para adequar a dieta para que ela só tenha o ganho de peso dentro do esperado para a sua gestação”, explica Lilian.
Antes da gestação
Quanto mais planejada uma gravidez, melhor. Se o casal já pensa em ter filhos, o ideal é buscar orientação médica bem antes, pois mesmo os hábitos mantidos antes de engravidar podem influenciar na formação do bebê.
“O estado nutricional da mãe antes da gestação é essencial para garantir substâncias necessárias para que a divisão celular aconteça de maneira adequada. Ou seja, o cuidado com a alimentação deve começar antes. É sempre importante lembrar: o pré-natal e o acompanhamento de perto do andamento da gestação deve ser feito com um profissional de saúde da sua confiança”, completa Lilian.
Importante
O ideal é que toda gestante passe por uma avaliação nutricional, para fazer as adaptações de acordo com as necessidades de cada mulher. O cardápio deve ser individual e suplementações só podem ser consumidas com orientação médica.
Fonte: Lilian Fiorelli, ginecologista e obstetra; Domingos Mantelli, ginecologista.
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Este conteúdo é publicado na revista NA MOCHILA e compartilhado pelo Programa Escolas do Bem, do Instituto Noa.