Mais de 50% da população adulta brasileira está com sobrepeso ou obesidade. Em boa parte dos casos, a doença crônica acompanha a pessoa desde a infância. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), quatro em cada cinco crianças obesas permanecerão obesas quando adultas. ”Isso porque a obesidade nesta fase não reflete apenas na mudança da balança, mas em uma alteração metabólica que influencia toda uma vida. Os hábitos infanto-juvenis são determinantes para o que será o adulto do futuro”, alerta Caiaque Souza, médico nutrólogo da Clínica da Obesidade.
Os períodos mais críticos para o desenvolvimento da obesidade são os primeiros dois anos de vida e a adolescência. Se os pais já forem obesos, o risco de adquirir a doença é ainda maior. Mas muito além dos determinantes biológicos, o ambiente em que se vive exerce forte influência na vida de uma pessoa. “Tem sim a questão da carga genética, mas, antes de mais nada, os hábitos dos responsáveis influenciam diretamente na rotina das crianças e dos adolescentes. Pais com hábitos inadequados não têm cuidados com eles mesmos e, muitas vezes, inserem a criança neste mesmo cenário. A priori, o adulto não vê grande problema, mas é sim um grande risco. Compulsoriamente estas crianças não têm escolha, porque estão sob orientação dos pais”, adverte o nutrólogo.
A preocupação com a alimentação é de extrema importância e deve partir desde o pré-natal, com ações educativas focadas nos pais para a promoção da alimentação saudável e do aleitamento materno. Com os adolescentes, uma rotina saudável, até em períodos de férias escolares, pode ser determinante para a vida adulta. “A criança precisa do exemplo dentro de casa a todo momento. Ela não vai estar pronta. Precisa da rotina diária e ter, sobretudo, o exemplo dos pais. A melhor forma de ajudar é mostrar isso dentro de casa, mostrar opções saudáveis”, reafirma Caiaque.
Novos hábitos – A dica é manter uma alimentação pouco calórica e muito nutritiva. Evitar, ao máximo, a ingestão de açúcar, gordura saturada e sal. Os enlatados e os demais produtos industrializados precisam ser retirados da alimentação diária, incentivando sempre o consumo de frutas, verduras e legumes. “Para resistir ao tempo, os produtos industrializados costumam ter muito conservantes. Um suco de laranja natural, por exemplo, não dura mais de dois dias numa geladeira. Já o industrializado, tem mesmo quanto tempo de validade? Será que isso é mesmo bom para a nossa saúde?”, questiona o médico.
Cabe, também, aos responsáveis pela criança ou pelo adolescente estimular a prática da atividade física. Em uma semana de 168 horas, é preciso dedicar apenas 2,5 horas a atividades físicas para já ter grandes benefícios. Além disto, é preciso se atentar às horas adequadas de sono, beber bastante líquido e controlar o tempo de tela a que crianças e adolescentes estão submetidos. “A obesidade é multifatorial. Não tem como destacar apenas um fator específico para a causa, mas o fato da globalização e da disponibilidade de tantos dispositivos tecnológicos, como tablets, têm feito com que a criança fique presa a estes aparelhos e diminua o convívio social”, pondera Paulo Laborda da Cruz, psicólogo da Clínica da Obesidade, que é gestalt terapeuta, especialista em Terapia Transpessoal Sistêmica (TTS) e em constelação familiar.
Estigmatização – Além de trazer riscos à vida, a obesidade infanto-juvenil pode trazer transtornos psicológicos a uma criança ou um adolescente. “É a inserção dela na inclusão perversa. À medida que fica inibido por questões estéticas, por conta dos símbolos adquiridos socialmente, como o conceito da beleza, o indivíduo passa a não se sentir incluído e sofre com estas inserções sociais. Ele não pode desfrutar das mesmas relações sociais que outras pessoas e passa a ser uma referência negativa. Busca, então, preencher este vazio com uma compulsão. Quando novos, uma das mais fáceis é a alimentar”, explica o psicólogo.
Perigos como estes foram alertados numa pesquisa recente da Academia Americana de Pediatria e da Obesity Society. As instituições ponderaram que o estigma contribui, ainda, para o isolamento social, diminuição da atividade física e aumento de peso, que pioram a obesidade e criam obstáculos adicionais para a mudança de comportamento saudável. “Estes distúrbios psicossociais contribuem para que o sujeito possa sofrer uma depressão, inclusive. A criança precisa ser observada de perto. Obesidade é uma patologia e não pode ser vista como uma besteira. Os pais, muitas vezes, incentivam uma alimentação desequilibrada por acreditar que crianças que comem muito são sadias. Gordinho é engraçado, gordinho é feliz. Não! Muitas vezes a pessoa assume este papel apenas para se reintegrar à sociedade que ele deixou de pertencer”, alerta Paulo.
Fontes: Caiaque Petrolino de Freitas Souza, Médico da Clínica da Obesidade
Médico nutrólogo; Paulo Laborda da Cruz, Psicólogo da Clínica da Obesidade.
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Este conteúdo é publicado na revista NA MOCHILA e compartilhado pelo Programa Escolas do Bem, do Instituto Noa.