O desenvolvimento da fala nos primeiros anos de vida de uma criança pode ser afetado por problemas de perda de audição não diagnosticados. Por isso, é muito importante que os pais fiquem atentos aos sinais de atraso na linguagem oral, nos primeiros dois anos de vida, para evitar que a criança tenha prejuízos no seu desenvolvimento que podem acarretar em problemas por toda a vida.
Dados da Organização Mundial de Saúde apontam que aproximadamente 32 milhões de crianças, no mundo inteiro, têm algum tipo de deficiência auditiva, sendo que 40% dos casos ocorrem devido a problemas genéticos e 31% por causa de infecções, como sarampo, rubéola e meningite.
No Brasil, segundo dados do IBGE, um milhão dos 9,7 milhões de pessoas que têm deficiência auditiva são jovens de até 19 anos. Estima-se que três em cada 1.000 crianças sofrem com algum tipo de perda de audição.
Muitos pais só buscam tratamento para o problema de audição dos filhos quando outros sintomas começam a surgir, apesar de o atraso na fala e a falta de diálogo serem os sinais mais evidentes.
Segundo a fonoaudióloga Marcella Vidal de Freitas, diagnósticos equivocados e o costume de esperar que a criança desenvolva o diálogo naturalmente podem causar danos irreparáveis na infância e até na vida adulta; além de atrasar o tratamento da perda de audição.
(Foto: Freepik)
“Quanto antes o tratamento for iniciado, maiores as chances de um bom desenvolvimento infantil, além de melhores resultados no processo de tratamento que possibilitam que o desempenho comunicativo seja alcançado mais rapidamente, muito próximo ao de crianças ouvintes. Não há por que postergar. A perda auditiva pode ser diagnosticada com uma audiometria, um exame simples que detecta a doença em até 90% dos casos”, explica a especialista.
Marcella destaca que o processo de maturação do sistema auditivo central ocorre durante os primeiros anos de vida. “Por isso, a estimulação sonora neste período de maior plasticidade cerebral é imprescindível, já que para o aprendizado da linguagem oral e, consequentemente, o desenvolvimento intelectual, emocional e de habilidades, é preciso que as crianças interajam com seus interlocutores e, assim, estabeleçam novas conexões neurais. É bom lembrar também que há diferenças entre ouvir e escutar. Os sons que entram pelos ouvidos precisam fazer sentido, ter significado” alerta a fonoaudióloga.
E mesmo que a criança, quando recém-nascida, não tenha apresentado alterações auditivas no Teste da Orelhinha, ao menor sinal de atraso na fala é importante que ela seja submetida a novos exames, pois a perda auditiva pode ser genética ou progressiva, ou mesmo ser causada por medicamentos ototóxicos, se manifestando, portanto, ao longo da infância.
Exames como o PEATE (Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico) e o EOA (Emissão Otoacústica) podem detectar o grau de perda auditiva, servindo como ponto de partida para que o médico otorrinolaringologista indique o tratamento mais adequado para cada caso.
“Com o passar do anos, por causa da falta de diálogo, a perda auditiva vai afetar a socialização e a autoestima das crianças e pode também prejudicar bastante o seu desenvolvimento cognitivo e a alfabetização”, afirma Marcella.
De acordo com o Censo Escolar, entre 2011 e 2016 houve uma redução de 23% no universo de estudantes surdos, o que dá a entender que esse público estaria deixando a escola. “Não raro, há pessoas que só identificam a perda auditiva na universidade e descobrem que a dificuldade de aprendizagem ou até mesmo o déficit de atenção diagnosticado na infância era, na verdade, dificuldade para ouvir”, finaliza a especialista.
Por Hugo Shigematsu
Fonte: Marcella Vidal de Freitas, fonoaudióloga.
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Este conteúdo é publicado na revista NA MOCHILA e compartilhado pelo Programa Escolas do Bem, do Instituto Noa.