Ter filhos é saber que seu sono, seu tempo… e até a sua sala nunca mais serão os mesmos. Aquele cenário de brinquedos espalhados pela casa só vai se transformando nas formas, nos tamanhos e nos tipos. O desafio é colocar alguma ordem no espaço, pelo menos de vez em quando, e criar memórias inesquecíveis com as crianças. Sim, isso é possível.
Veja dicas e inspirações para você e o seu filho curtirem a infância juntos com criatividade, diversão e cumplicidade. Ouvimos duas artistas e mães craques nessas invenções cotidianas – a autora de livros Aline Abreu, professora de artes da Faculdade Santa Marcelina e d’A Casa Tombada, e mãe de Emanuel, 11, e Luísa, 2; e a cenógrafa e crafiteira Estéfi Machado, autora de O Livro da Estéfi – Crafts Para Fazer em Família, Companhia das Letrinhas, mãe de Téo, 11. Elas contam como fazer arte em casa ajuda no desenvolvimento das crianças e dão ideias de como inventar atividades diferentes para filhos e pais brincarem juntos.
Ninguém deveria abrir mão de se expressar artisticamente. Desde bebê, o ser humano precisa dessa prática para elaborar seus aprendizados, seus sentimentos e entender suas emoções. “É por meio dessa expressão que as crianças expandem sua sabedoria e reconhecem que são capazes de se transformar, porque algo de si mesmas aparece no mundo e pode ser compartilhado com os outros”, escreve a pedagoga e pesquisadora argentina María Emilia López no livro Um Mundo Aberto – Cultura e Primeira Infância, Selo Emília. Por isso, o tempo dedicado às atividades de artes precisa ir além do período escolar.
Não precisa achar que o seu filho só vai ser feliz se puder pintar todas as paredes. Mas cercear demais também não é bom. Use o bom senso, escolha um canto, converse com ele e experimentem. “Deixo fazer de tudo, mas com algum controle. Protejo minha mesa de madeira com toalha de plástico transparente, por exemplo”, diz Estéfi. “No chão, dá para esticar um papel grande de craft ou espalhar jornais para não estragar o piso.” Aí, é só trabalhar com os materiais!
Não à toa, os adultos têm dúvidas do que permitir aos pequeninos. A boa notícia é que hoje é mais comum encontrar produtos atóxicos ou próprios para as crianças. Sem contar receitas de massinhas e tintas comestíveis que podem ser produzidas em casa. “Já fiz tintas comestíveis com espinafre, açafrão… e massinhas com farinha, amido de milho e corante natural”, conta Estéfi.
Estéfi indica o “kit básico de sobrevivência na terra artística”, como ela brinca, que funciona até como presente de aniversário. “Pincel, palitos, barbante, fita-crepe, tesoura sem ponta e está pronto! Fique de olho nos itens da casa que são transformáveis, como rolo de papel higiênico, pregador, caixas de encomenda, sacola de papel craft”, sugere. Além, claro, do estojo com giz de cera, lápis, cadernos…
Seu filho pode fazer um caderno com o jeito dele para desenhar. Como? Aline Abreu ensina: pegue papéis avulsos e dobre ao meio. Em seguida, abra-os, faça dois pequenos furos sobre a dobra, bem no meio – na vertical, com cerca de 1 cm de distância entre eles – usando uma agulha grossa. Com essa mesma agulha, passe uma linha de bordar, apenas uma vez, e dê um nozinho por fora, para unir as folhas. Dá para usar qualquer papel, misturar cores e texturas. “Será um caderno de desenho personalizado. Sempre o carrego em qualquer situação – junto de um estojo com lápis, canetinha, giz de cera – para que as crianças possam ter algo legal para fazer”, diz Aline.
Reserve uma parede da casa e combine com o seu filho que ali é permitido pendurar tudo. “Para os pequenos, ter seu desenho colocado na parede, visível para si e para os outros, é uma afirmação de seu lugar no mundo, uma extensão de si mesmo”, diz a especialista María Emilia López.
Para Estéfi Machado, além do brincar em si, o que importa é a disposição de estar junto. “Quando for encarar a brincadeira, vá de verdade, sem se importar com o resultado”, diz. Para Aline Abreu, essas atividades ampliam o repertório de percepção da criança não só do mundo das artes, mas de modo geral. “Quanto mais diversidade de materiais e técnicas e modos de fazer, mais propiciamos abertura para a diversidade de experiências que uma pessoa pode ter ao longo da vida. E isso ajuda a mostrar que ela é maior do que imaginamos”, completa Estéfi.
Fonte: Revista Crescer,
Por Cristiane Rogério