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Matemática: neurociência mostra que todo mundo é capaz de aprender

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Dias atrás, eu e meu filho de 12 anos nos dirigimos ao caixa da padaria para pagar nossa compra. A atendente registrou R$ 17. Dei uma nota de R$ 20 e meu menino ficou indignado no momento em que ela pegou a calculadora para ver quanto seria o troco. A questão é: por que uma conta de matemática que para alguns é ridícula de tão óbvia, para outros é de uma tremenda complexidade? Foi isso que demonstrou Jo Boaler, professora de educação matemática da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, durante o Seminário Mentalidades Matemáticas, que aconteceu neste dia 23 de maio, no Hotel Meliá, em São Paulo.

Os dados brasileiros relacionados ao aprendizado desta disciplina são muito, mas muito preocupantes. Se considerarmos o relatório Pisa, principal avaliação de educação básica, divulgado em 2016, entre as 70 nações analisadas, os alunos brasileiros ocupam a 65ª posição. Ou seja, estamos entre os seis piores.

De acordo com esta avaliação, mais de 70% dos alunos brasileiros entre 15 e 16 anos não conseguem resolver problemas comuns envolvendo números.

Tem que ser gênio para entender matemática?

Vamos e venhamos: essa disciplina é carregada de dificuldades e não é todo mundo que tem talento para cálculos, certo? ERRADO! Se você é do tipo que acredita que a aprendizagem da matemática é para poucos gênios, de que não é coisa de mulher e que é preciso ter um raciocínio rápido para sair-se bem, está na hora de mudar seus conceitos.

O que a pesquisadora Jo Boaler apresentou neste seminário foram dados que desconstroem algumas crenças sobre as dificuldades em aprender matemática. Pelos estudos da neurociência, qualquer pessoa é capaz de aprender matemática de forma fácil e prazerosa, até mesmo conteúdos de alta complexidade. E isso tem a ver com a plasticidade cerebral: está comprovado que o cérebro cresce e se modifica de acordo com a jornada da aprendizagem. Então, como conseguir isso? Através de uma matemática que ela classifica como visual, criativa e encorajadora.

(veja outros vídeos e materiais da plataforma Youcubed em português)

Segundo a especialista, pesquisas garantem que as melhores aulas de matemática são aquelas que conseguem engajar os alunos em atividades que focam a compreensão do problema e sua resolução, em vez da memorização pela repetição ou da desistência por pensar que é incompetente para esse aprendizado.

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Neurociência derruba mitos relacionados à aprendizagem da matemática

Veja seis novos paradigmas sobre a aprendizagem da matemática que são capazes de reverter a rejeição do aluno pela disciplina:

  • Meninos ou meninas: todos podem aprender matemática

A neurociência colocou por terra a crença de que as ciências exatas são mais familiares aos cérebros masculinos. De acordo com a professora Boaler, qualquer pessoa, independentemente do gênero, é capaz de aprender matemática, desde que seja encorajada de forma adequada. E esse é um papel do professor. Ele deve mostrar ao aluno que todo mundo tem potencial para este aprendizado, até mesmo diante de problemas complexos.

  • Os erros são importantes para o desenvolvimento cerebral e para alcançar o sucesso

Uma educação encorajadora é aquela em que pais e professores mudam o “mindset” da criança, mostrando a ela que o erro existe para que continue tentando e faça diferente, faça melhor, até acertar. A neurociência comprovou que é isso o que promove o desenvolvimento cerebral. Desistir não contribui em nada para a evolução na jornada da aprendizagem.

  • Raciocínio matemático não tem que ser rápido. Tem que ser profundo

Os pesquisadores do cérebro acreditam que a rapidez para solucionar um problema matemático, por meio da memorização, não representa a eficácia na aprendizagem. Isso porque observaram que os alunos que se saem melhor com problemas numéricos são aqueles que ativam diferentes rotas cerebrais, que entendem com profundidade. Ser lento também é sinal de inteligência, garantem os neurocientistas.

  • Decorar tabuada não deixa o aluno mais inteligente nos cálculos matemáticos

Outro mito derrubado pela neurociência, segundo Boaler, é em relação à memorização pela repetição. Ter a tabuada na ponta da língua é apenas uma pequena parte da aprendizagem, mas não é essencial. O mais importante é o que os especialistas chamam de “senso numérico”, uma prática que usa os números com flexibilidade. Por exemplo: pela memorização, você logo rebate que 7 x 8 é igual a 56. Já, pelo senso numérico, você pode calcular que 7 x 7 é igual a 49 e logo chegar ao resultado acrescentando 7 para fazer 56. Ou poderia pensar em 10 x 7 = 70 menos 2 x 7 (14), chegando ao mesmo resultado. Usar diferentes formas e situações para alcançar o mesmo resultado é o que amplia a plasticidade cerebral: ou seja, a inteligência.

  • Avaliações cronometradas são extremamente danosas

Formas tradicionais de avaliação, de forma cronometrada, são fortes motores de ansiedade – e isso é extremamente prejudicial ao raciocínio matemático. Isso porque os fatos matemáticos ocorrem na mesma seção em que a memória opera no cérebro. Se o aluno se sente estressado pela pressão do tempo em resolver os problemas da avaliação, a memória sofre um bloqueio e assim a confiança na matemática é corroída. Então, pasme: isso ocorre particularmente entre as meninas e os alunos de aproveitamento mais alto. Resumindo: a ansiedade é inimiga da matemática e a principal responsável pela rejeição à disciplina.

  • Ter um potencial matemático excepcional não está relacionado à facilidade de memorização

Os pesquisadores descobriram que os alunos que memorizavam com mais facilidade não eram os de alto aproveitamento ou “mais inteligentes”. Porém, há uma tendência no aluno de acreditar que sua incapacidade para memorizar é a razão de sua incompetência matemática, o que o afasta da disciplina. Na verdade, nesses alunos está outro potencial que precisa ser explorado através do senso numérico, e não do decoreba.

Como estimular a aprendizagem matemática através do senso numérico?

Para os pesquisadores, essa é a base da matemática que promove o alto desempenho ou aproveitamento da disciplina. Por exemplo: um aluno de alto aproveitamento, quando desafiado a resolver uma subtração simples, como 21 – 16, usa o senso numérico transformando em 20-15, que deixa o raciocínio muito mais fácil. Já um aluno de baixo aproveitamento faria essa conta de forma decrescente, sem usar o senso numérico, o que é muito mais difícil.

Então, como fazer em sala de aula? O professor deve estimular o aluno a reconhecer de que forma um número pode ser composto ou decomposto, e usar essa informação para ser flexível e eficiente na resolução dos problemas.

Para entender mais sobre essa nova tendência internacional de ensino da disciplina, o Instituto Sidarta, em parceria com o Itaú Social traduziram ao português a plataforma “YouCubed”, fundada pela professora Jo Boaler, que traz importantes ferramentas e orientações aos professores que querem adotar uma forma eficiente e transformadora no ensino da matemática. Vale a pena conhecer!

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* Lucy De Miguel é jornalista especializada em primeira infância, idealizadora do Programa Escolas do Bem e da plataforma Meus Cursos Livres, que oferece formação continuada para os profissionais de Ed. Infantil.

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