O termo se refere a uma prática de educação que preza pelo entendimento do outro por meio da palavra, dando a ele a chance de apresentar seus sentimentos e opiniões sobre algo. “A técnica tem o objetivo de facilitar o relacionamento entre adultos e crianças, através de uma comunicação mais assertiva. A partir dela pais e professores aprendem a ‘escutar’ com mais empatia e compreensão as necessidades que as crianças expressam através do choro, dos conflitos e dos sentimentos que manifestam”, explica Cássia Noleto, a coordenadora em Educação Infantil.
Modo de usar
Para executá-la, Sérgio Porfírio, especialista em educação e psicanálise da criança e do adolescente, alerta que é essencial que os pais estejam atentos ao que os filhos tenham a dizer e abdiquem de qualquer traço de autoritarismo, dando a eles confiança para se expressarem. “Colocar-se sentada frente a frente ou se abaixar para falar com a criança é um passo importante, diferente de pegá-la no colo, ato que por si só a coloca em um lugar de inferioridade, submissa. Além disso, é preciso olhar nos olhos, respondê-la com atenção e com linguagem clara”, salienta Sérgio.
Benefícios & Vantagens
O professor de psicologia Luciano Gomes dos Santos ressalta como um dos principais benefícios dessa prática o fato de a criança se sentir valorizada e respeitada pelos pais. “Além disso, ela se sente cuidada e amada. Há o sentimento de que os pais não estão apenas de corpo presente, mas todo o seu ser se volta para ela nesse processo”, completa.
Quando os adultos se mostram atentos e interessados ao que os pequenos têm a dizer, reforça-se o vínculo e a confiança mútua. As crianças recebem a mensagem de que suas opiniões e perguntas têm relevância. “Muitos adultos, às vezes na pressa do dia a dia, acabam não prestando muita atenção a algumas perguntas das crianças e as deixam sem resposta, o que pode fazer com que os pequenos entendam que suas dúvidas são bobas ou desimportantes”, reforça a psicóloga Ane Caroline Janiro.
Mais decididas
Quando são ouvidas, as crianças desenvolvem a reflexão sobre as suas próprias atitudes e aprimoram a capacidade de tomar decisões. Segundo o psicanalista Rodrigo Buoro, elas passam a confiar mais nos adultos com quem convivem e tendem a minimizar a ansiedade frente ao desconhecido. Outra vantagem do método está no próprio desenvolvimento emocional da criança. “Ela aprende a ouvir e a escutar o outro. Aprende a respeitar as diferenças e a conviver com as pessoas que pensam diferente de si”, ressalta Luciano.
Os limites da conversa
Com a escuta ativa, o adulto precisa estar atento para não confundir abertura ao diálogo com falta de limites. Como em qualquer tipo de educação, as regras da casa e do convívio social devem estar bem estabelecidas para que as crianças possam crescer e se desenvolver de forma segura e equilibrada.
“A grande diferença é que a disciplina é aplicada de forma a não reforçar uma relação de medo e agressividade, mas sim de identificação das crianças com uma figura de autoridade que ela admire e respeite pelo bom exemplo, não pelas ameaças”, explica a psicóloga Ane. Na prática, a criança obedece pais e demais autoridades porque ela quer e consegue entender que deve fazer aquilo, e não é apenas por se sentir coagida a agir daquela forma. Trata-se de uma relação muito mais saudável entre obediência, compreensão e respeito mútuo.
5 pontos positivos da técnica:
1. Desenvolvimento da autoestima da criança;
2. Fortalecimento do vínculo entre pais e filhos;
3. Reconhecimento da autoridade sem a existência do medo;
4. Desenvolvimento da autoconfiança dos pequenos;
5. Estabelecimento de empatia entre pais e filhos e professores e alunos;
Escuta seletiva x escuta ativa
Embora seja de responsabilidade dos pais tomar à frente da educação dos filhos, é preciso levar em conta que isso não significa guiá-los com autoritarismo e controle absoluto sobre as suas decisões. É por isso que a escuta ativa valoriza tanto a opinião do outro.
“Os pais podem e devem praticar a escuta dos seus filhos, diferentemente de uma escuta seletiva, onde só se ouve o que o adulto quer. Isso não significa perder a autoridade ou permitir que a criança domine a relação, muito pelo contrário, escutar ativamente, proporciona uma maior criação de vínculo entre pais e filhos e consequentemente respeito”, explica Sérgio Porfírio.
Por Natália Ortega
Fontes: Ane Caroline Janiro, psicóloga clínica e idealizadora do projeto e blog Psicologia Acessível; Cássia Noleto, coordenadora da Educação Infantil; Luciano Gomes dos Santos, professor de Psicologia da Faculdade Arnaldo, de Belo Horizonte
Rodrigo Buoro, psicanalista e professor universitário; Sérgio Porfírio, especialista em educação e psicanálise da criança e do adolescente.
Leia também:
Diagnóstico precoce ajuda no tratamento de queda de cabelo em crianças
Cinco brincadeiras para aproveitar o tempo livre em casa com as crianças
Xadrez é aliado no tratamento de crianças hiperativas
Este conteúdo é publicado na revista NA MOCHILA e compartilhado pelo Programa Escolas do Bem, do Instituto Noa.