Você sabia que crianças e adolescentes que passam mais tempo em espaços fechados e menos tempo ao ar livre correm um risco maior de desenvolver a miopia? Estima-se que hoje as crianças passam mais de cinco horas vendo TV ou usando dispositivos eletrônicos em casa. Somando o período que elas passam na escola, podemos dizer que praticamente o tempo gasto em espaços abertos é mínimo.
Porém, estudos recentes apontaram que a falta de exposição à luz solar é um fator de risco importante para o desenvolvimento da miopia ou para a progressão deste erro refrativo em quem já tem o diagnóstico.
A explicação é que a exposição aos raios solares estimula a produção da dopamina, um neurotransmissor que previne que o olho cresça alongado, o que leva à distorção do foco de luz que entra no globo ocular, causando a miopia. Além disso, lugares abertos
ajudam a treinar a visão de longe.
De acordo com a oftalmopediatra, Marcela Barreira, outra descoberta importante ligada às atividades ao ar livre é que a dopamina é produzida durante o dia, sendo o neurotransmissor responsável por dar o comando para o olho mudar da visão diurna para a visão noturna. “A pouca exposição à luz solar interrompe esse ciclo, causando modificações no crescimento do olho, outro fator de risco para desenvolver a miopia’, comenta Dra. Marcela.
Segundo a Academia Americana de Oftalmologia (AAO), estima-se que em 2050 cerca de metade da população mundial será míope. Isso significa que se nada for feito, haverá um aumento de 83% dos casos de miopia nos próximos 34 anos. “Atualmente, a prevalência da miopia é de 11% a 36%.
“Como o desenvolvimento visual ocorre na infância, até por volta dos 7 anos, é fundamental atuar na prevenção do problema, assim como levar as crianças ao oftalmopediatra ainda no primeiro ano de vida”, ressalta Dra. Marcela.
A miopia tem um fator genético importante, pois algumas pessoas nascem com uma predisposição maior de serem míopes. “Mas, de acordo com a exposição aos fatores de risco, como leitura excessiva, uso prolongado de equipamentos eletrônicos e pouca exposição à luz solar, a miopia pode ou não se desenvolver”, explica Dra. Marcela.
Um estudo da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, mostrou que pessoas que carregavam a variante do gene chamado APLP2, ligado à miopia, tinham cinco vezes mais chance de desenvolver a condição na adolescência quando submetidos a uma hora ou mais de leitura na infância, por dia. Já as pessoas com o mesmo gene que gastaram menos tempo em atividades que precisam da visão de perto, não tinham o risco adicional de se tornarem míopes.
Como tudo na vida, vale sempre usar o bom senso. Naturalmente, é preciso estimular as crianças a se dedicarem à vida escolar e à leitura, desde que as atividades ao ar livre também façam parte do dia a dia.
“A atividade física é o estímulo ideal, pois influencia não só na prevenção da miopia, como também ajuda a criança a manter o peso, controlar os níveis de açúcar, a pressão arterial, além da influência no desenvolvimento motor, cognitivo e na interação social, entre outros benefícios. O ideal é passar de duas a três horas por dia em ambientes externos, o que pode incluir brincadeiras, esportes, lazer, caminhadas de ida e volta da escola, passeios com o cachorro, entre outros”, recomenda a oftalmopediatra.
“A miopia pode ser corrigida com óculos, lentes de contato ou cirurgia, porém nenhuma dessas terapias irá corrigir o alongamento do globo ocular. Quando o grau da miopia é alto, acima de 6, a deformação do globo ocular aumenta o risco de desenvolver condições como o descolamento de retina, catarata e glaucoma, por exemplo”, conclui Dra. Marcela.
Fonte: Marcela Barreira, oftalmopediatra.
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Este conteúdo é publicado na revista NA MOCHILA e compartilhado pelo Programa Escolas do Bem, do Instituto Noa.