Vários pesquisas já comprovaram que sofrer agressões físicas ou verbais durante o
período escolar pode desencadear psicopatologias na vida adulta ou ainda na adolescência. Cerca de 30% dos jovens entre 14 e 19 anos sofrem bullying de forma constante. A novidade é que um estudo que acaba de ser publicado no jornal científico Molecular Psychiatry revelou que o bullying está diretamente ligado ao desenvolvimento do Transtorno da Ansiedade Generalizada (TAG).
Por meio de exames de neuroimagem de 682 jovens, vítimas de bullying, os pesquisadores descobriram uma redução significativa nos volumes do núcleo caudado e do putâmen esquerdos. Trata-se do primeiro estudo que relacionou marcadores biológicos no desenvolvimento de psicopatologias relacionadas ao bullying.
Os pesquisadores descobriram que as alterações no volume do putâmen esquerdo estavam negativamente associadas à ansiedade generalizada. Além disso, os jovens com traços ansiosos apresentavam também redução no volume núcleo caudado esquerdo.
Segundo a neuropsicóloga Thaís Quaranta, coordenadora do curso de pós-graduação em psicopatologia na infância e adolescência da APAE-SP, estudos anteriores já haviam apontado redução no volume cerebral de adultos com transtornos mentais que sofreram abusos na infância.
“As alterações atingem áreas do cérebro ligadas à regulação das emoções, controle da impulsividade e processamento da recompensa. Porém, este estudo mostrou que o bullying afeta outras estruturas e está diretamente relacionado ao desenvolvimento da
ansiedade generalizada em jovens adultos”.
Para Thaís, este estudo só confirma o que já é visto na prática clínica. “Os efeitos das agressões físicas e verbais no ambiente escolar podem ser muito graves. Principalmente na adolescência, fase da vida em que as mudanças físicas e biológicas são intensas. Uma
vez que as pesquisas comprovam os prejuízos do bullying para a saúde mental, é preciso achar recursos mais eficazes para combater esta prática”, reflete.
A neuropsicóloga cita que muitos adolescentes sofrem calados. “Expressar as emoções é uma habilidade que desenvolvemos ao longo da vida. Porém, na adolescência falar sobre os sentimentos pode ser mais difícil, pois há uma introspecção maior. Assim, nem todos os pais podem perceber que o filho (a) está passando por situações de bullying na escola. E a própria escola também pode não notar, já que muitas vezes é algo feito longe dos olhos dos educadores”, comenta Thaís.
Com a ajuda da especialista, elaboramos uma lista com 4 sinais de alerta que podem indicar que a criança ou o adolescente está sofrendo bullying.
Queda repentina do desempenho escolar: Há marcos importantes que podem afetar o desempenho escolar, principalmente as mudanças de séries. Entretanto, se este não for o caso, notas baixas e falta de motivação para estudar podem ser sinais de alerta para pais e educadores investigarem situações de bullying.
Recusa em ir para a escola: Normalmente, crianças e adolescentes gostam de ir para a escola, já que interagem com os amigos, fazem as atividades, etc. Porém, se repentinamente há recusa em ir para a escola, é preciso investigar os motivos. Claro que nem sempre o bullying é a razão, mas há esta possibilidade. Portanto, vale à
pena procurar entender melhor essa recusa.
Mudanças de comportamentos: A instabilidade emocional é normal na adolescência, assim distanciamento dos pais, maior necessidade de estar sozinho ou com os amigos. Porém, os pais devem ficar atentos quando há alterações bruscas de comportamentos, que não faziam parte do repertório da criança/adolescente. Irritabilidade, agressividade, raiva alta, rebeldia extrema, choro constante, perda de apetite, isolamento acima do normal, excesso ou falta de sono.
Insatisfação com a aparência física: Em muitos casos, o bullying está relacionado com características físicas, como peso, altura, tipo de cabelo, cor da pele, uso de óculos, etc. Quando o adolescente começa a mostrar uma insatisfação muito alta com a própria aparência, os pais devem ficar mais atentos. Pode ser apenas vaidade, mas pode ser resultado do bullying. Nestes casos, baixa autoestima, complexo de inferioridade e excesso de comparações com colegas ou até mesmo com personalidades podem ser sinais vermelhos.
Como os pais podem ajudar?
“A adolescência é a época mais difícil da vida de qualquer pessoa. É a fase em que os pais precisam redobrar a atenção, se fazerem presentes, participarem da vida escolar, conhecer os amigos, impor limites e regras e, acima de tudo, praticar a escuta ativa. Quanto mais próximos e presentes, mais fácil será notar que há algo errado”, recomenda Thaís.
Se ainda assim não for possível identificar a causa dos sinais de alerta, o ideal é procurar um psicólogo especializado no atendimento de crianças e adolescentes. “Com uma pessoa neutra, pode ser mais fácil expressar as emoções e pedir ajuda. Outra dica é monitorar as redes sociais, já que os adolescentes passam horas na internet e o
bullying também pode acontecer no ambiente virtual, o chamado cyberbullying”, cita Thaís.
Por fim, como uma última dica da psicóloga, é imprescindível que os pais orientem a criança na construção de boa autoestima e autoconfiança, reforçando sempre as conquistas, os pontos fortes e evitando comparações com irmãos ou colegas.
Fonte: Thaís Quaranta, neuropsicóloga e coordenadora do curso de pós-graduação em psicopatologia na infância e adolescência da APAE-SP.
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Este conteúdo é publicado na revista NA MOCHILA e compartilhado pelo Programa Escolas do Bem, do Instituto Noa.