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A importância da alfabetização financeira

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Para ir ao shopping, a pequena Helena, de 6 anos, não dispensa sua bolsa a tiracolo. Mais do que um item fashion, o acessório guarda as moedas poupadas ao longo das semanas. “Se ela quer comprar alguma coisa ou brincar em algum brinquedo, tem que fazer as contas para saber se dá”, explica sua mãe, a bancária Nathália Morato.

Desde cedo, os pais de Helena estimularam o entendimento dela sobre o dinheiro. Para fazê-la compreender o valor das coisas que pedia, a saída foi recorrer ao custo do sorvete que ela tanto adora. “A casquinha que ela ama custava R$ 2. Então, sempre fizemos a associação das coisas com o preço do sorvete. Por exemplo: ‘você quer brincar na piscina de bolinhas? Custa 5 sorvetes’. Hoje ficou mais fácil esse entendimento porque ela já conhece melhor os números”, completa a bancária.

A escola em que Helena estuda também estimula a educação financeira desde cedo. Uma vez por semana as crianças levam dinheiro para consumir na cantina. “Normalmente mando R$ 10, e recebo alguns trocados de volta, mas nas semanas em que mando R$ 20 já aviso que tem que saber gastar, porque o que sobrar é o que ela levará na próxima vez. Já aconteceu de ela gastar demais em uma semana e faltar na próxima. Então, ouvi um: ‘Mãe, você mandou pouco’. Eu expliquei: ‘foi exatamente o que sobrou da semana passada; como você gastou muito, teve que economizar dessa vez’”, detalha Nathália.

Etapas de aprendizagem

Segundo a educadora financeira Cássia D’Aquino, a nossa habilidade em lidar com dinheiro começa a ser formada aos cinco anos. Sendo assim, uma orientação financeira inserida ainda na primeira infância pode ser a diferença entre formar um adulto endividado daquele que tem uma relação saudável com o dinheiro.

É claro que essa iniciação deve ocorrer aos poucos, pois ano a ano a criança vai adquirindo maturidade para lidar melhor com o dinheiro. Entre os quatro e seis anos, por exemplo, ela começa a ser capaz de identificar atividades comerciais, ou seja, consegue perceber que comprar um doce exige algumas moedas do seu cofrinho.

Nessa fase, é preciso começar a introduzir orientações básicas de finanças aos filhos. Uma dica é demonstrar com exemplos práticos e de fácil entendimento aos pequenos como o dinheiro é utilizado como ferramenta de troca nas relações de compra e venda.

educacao-financeiraQuem poupa tem!

Outra dica importante para alfabetizar financeiramente as crianças é inserir em seu cotidiano a ideia de “poupança”. Ensiná-las a poupar parte da mesada para comprar algo mais caro no futuro ajuda com que elas entendam melhor o valor das coisas à sua volta e faz com que percebam que o dinheiro é um recurso limitado e, por isso, deve ser administrado com cuidado.

Benefícios da mesada

A mesada é uma boa ferramenta para introduzir a noção de controle financeiro no universo da criança. O valor fornecido pelos pais ou responsável deve ser compatível com as necessidades exigidas de cada faixa etária, e a forma de pagamento – se é mensal, semanal ou quinzenal – também.

Para crianças menores, o ideal é dar uma quantia toda semana, já que elas ainda não são capazes de controlar os gastos financeiros em longo prazo. À medida que crescem, a liberação do dinheiro pode ser espaçada, com valores oferecidos quinzenal e mensalmente.

Além disso, é importante que, junto com a quantia, os adultos deem autonomia para que a criança possa administrar os recursos recebidos, sempre amparada por orientação e acompanhamento.

“A família deve deixar que [a criança] arque com os seus desejos materiais e de lazer, e auxiliar que ela se organize para adquirir o que deseja, por exemplo, um tênis, um brinquedo, o ingresso de um cinema…”, destaca a professora de Matemática Lívia Linhares. Dessa forma, ela adquire noções de responsabilidade e de consequência sobre os seus gastos.

Consumo consciente

A professora de matemática Andrea Regina Neme Paulucci ensina diariamente dezenas de crianças a lidar com números na sala de aula. Em sua casa, não é diferente. No lugar de equações e expressões numéricas, Andrea orienta seus filhos, Sophia e Arthur, de doze e oito anos, respectivamente, sobre o uso consciente do dinheiro. “Para mim, é essencial que eles saibam que as coisas materiais têm que ser almejadas e conquistadas e que não é fácil consegui-las”, explica a professora.

Andrea faz questão de deixar claro aos filhos que tanto ela quanto seu marido dedicam-se muito no trabalho para que possam oferecer conforto e estabilidade financeira ao lar. Além disso, esforça-se para que o consumismo exagerado fique longe de sua casa. Presentes mais caros, por exemplo, ficam restritos a aniversário e datas especiais, como Natal e Dia das Crianças.

“E quando me pedem algo, eu converso e vejo se podemos naquele momento. Se a resposta for não, explico a eles. Normalmente, eles entendem”, completa Andrea.

De olho no consumismo

Em tempos de cultura do consumo, na qual somos bombardeados por propagandas que nos estimulam a ter e comprar mais e mais, torna-se cada vez mais necessário ensinar as crianças a desenvolver uma relação saudável com o dinheiro. “Aumentaram as ofertas, as seduções e com isso a ansiedade e o desejo por ter mais. O desafio hoje é preparar as crianças para lidarem com o dinheiro e para fazerem escolhas financeiras em um cenário mais complexo”, detalha Ana Paula.

Segundo a especialista, é preciso orientar as crianças a diferenciar o que é necessidade daquilo que não passa de mero desejo, estimulando-as desde cedo a como priorizar escolhas quando se trata de consumo.

Nesse contexto, não basta apenas ensinar os aspectos técnicos que envolvem o dinheiro, mas também fornecer suporte emocional para que os pequenos consigam tomar decisões financeiras conscientes e, com isso, tornem-se adultos que não reagem por impulso frente aos estímulos da sociedade consumista na qual estamos inseridos.

“Já é provado pela psicologia econômica que nosso cérebro, quando pressionado ou estressado, tende a tomar decisões pelo ímpeto, a evitar a dor e buscar o prazer. Para frearmos este processo, em uma situação de apelo ao consumismo, é necessário que nosso cérebro esteja treinado e saiba identificar o gatilho. Nada melhor do que fazer esse treinamento emocional desde pequeno!”, alerta Ana Paula.

Nesse quesito, o cofrinho é um ótimo aliado, pois possibilita que a criança possa visualizar as economias e a identificar o quanto falta para atingir o objetivo que ela mesma traçou. “Assim, quando for adulta, aprenderá a guardar parte do salário em uma poupança, para que em situações inesperadas não precise recorrer a empréstimos ou tenha nessa economia uma maneira de juntar uma quantia para comprar algo mais valioso”, relata Lívia.

Por Natália Ortega

Nossas fontes
Ana Paula Hornos, educadora financeira, coach e autora dos livros “Crise Financeira na Floresta” e “Coleção Didática Educação Financeira e Valores”
Cássia D’Aquino, educadora financeira e autora do livro “Dinheiro Compra Tudo?”, da editora Moderna
Lívia Linhares, professora de Matemática

 
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