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Punições corporais tornam a criança mais agressiva e podem comprometer o desempenho escolar

punições

Pôr fim às birras, acabar com a malcriação e estabelecer limites… É fato que educar uma criança não é das tarefas mais fáceis. Ela testa, chora, grita e faz pirraça, colocando à prova a paciência dos pais diariamente. Nesses momentos de crise, recorrer às punições corporais pode até parecer a solução mais eficaz, mas não é – e há muitas pesquisas científicas que provam o porquê.

Um tapa deixa marcas profundas na personalidade da criança e ajuda a cultivar a cultura da violência no país. “A violência diária, estrutural e cultural vai sendo banalizada e se tornando um ciclo vicioso entre gerações”, alerta Evelyn Eisenstein, médica e professora adjunta de Pediatria e Clínica de Adolescentes.

Sobreviventes ou esquecidos?

É bem comum ouvirmos adultos falando frases como ‘meus pais fizeram isso comigo e eu sobrevivi’ ou ‘meus pais me bateram e, por isso, sou uma pessoa melhor’. Para Juliana Galano, psicóloga infantil, apenas quando crescemos, adquirimos maturidade para avaliar o certo e o errado. “Um exercício legal é o adulto se lembrar de como ele se sentiu quando recebeu essas punições. Sim, sobrevivemos, mas como nos sentimos quando nossos pais não nos deixaram explicar? As crianças aprendem com as experiências. Para que elas ouçam os adultos, elas precisam sentir que são ouvidas por eles”, destaca a especialista.

Além disso, ao contrário do que muitos pais acreditam, uma palmada não vem carregada de disciplina e obediência, mas, sim, de medo e submissão. “Todo castigo físico produz uma violência psicológica ao trazer o medo, a dicotomia entre amor e raiva em relação a quem amamos e devia nos proteger”, detalha Marcia Oliveira, coordenadora da Campanha Nacional Não Bata, Eduque.

Para a especialista, mais grave ainda é o fato de que quando uma criança apanha, ela aprende a bater, pois acaba interiorizando a ideia de que violência é uma maneira aceitável de resolver conflitos e diferenças. “Essa prática indica que quando perdemos nosso poder de argumentação, é possível recorrer à força física, ou o poder do mais forte sobre o mais fraco, que é a relação do adulto sobre a criança”, explica Marcia.

Efeitos negativos

Diversas pesquisas já comprovaram que o uso de punições corporais torna a criança ou o adolescente mais suscetível à rebeldia, ao sentimento de vingança, à prática de delitos e ao bullying. “Além disso, a criança que só recebe punições negativas não aprende a ter autodisciplina; a punição é uma motivação externa e a autodisciplina é uma motivação interna”, explica a psicóloga Juliana Galano.

Um estudo feito por cientistas americanos e publicado no Journal Family Psychology destaca que quanto mais a criança apanha, maior a probabilidade de ela se rebelar contra os pais no futuro. A conclusão é consequência de 50 anos de pesquisa, que averiguou o comportamento de mais de 160 mil crianças e adolescentes.

Outro estudo – esse desenvolvido na Universidade de Hampshire, nos Estados Unidos – aponta que crianças que sofriam castigos físicos apresentaram, após quatro anos, um coeficiente intelectual mais baixo em relação aos meninos e meninas que não passaram por esse tipo de punição.

Melhor caminho

De acordo com Marcia, as razões relatadas pelos pais que mais os motivam a utilizar a palmada como ferramenta disciplinar é raiva, frustração, descontrole emocional, além dos sentimentos de afronta e desrespeito originados por um comportamento infantil inadequado.

Então, o que fazer? A especialista explica que em vez de recorrer à violência física, que além de traumatizar a criança ainda se mostra ineficaz no quesito disciplina, os pais podem investir em outros meios para corrigir a criança. O diálogo franco e firme é o primeiro passo nesse longo caminho da educação, além da apresentação de lições básicas do que é certo e errado. Os pais também devem ensinar a criança a pedir desculpas, reparar os danos causados e reconhecer seus erros.

Outra técnica apontada como medida alternativa e construtiva ao uso dos castigos físicos é a suspensão de privilégios. “(A técnica) pode ensinar a criança a pensar nos prós e contras de obedecer ou transgredir as regras básicas. Essa estratégia surte mais efeito se não são impostas de forma arbitrária e sejam coerentes”, completa Marcia.

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Imagem: AdobePhoto.

Palmada é contra lei!

A Lei Menino Bernardo, que estabelece que crianças e adolescentes têm direito de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos cruéis ou degradantes, acaba de completar dois anos. O nome da lei faz uma homenagem ao menino Bernardo Boldrini, de 11 anos, morto em abril de 2014. O pai e a madrasta do garoto, com ajuda de uma amiga e do irmão dela, são acusados da morte.

Apesar de recente, o país já tem o que comemorar com a implementação da lei. Nos últimos anos, caiu o número de denúncias que envolvem violência física a crianças. De acordo com dados do Disque Direitos Humanos, entre 2014 e 2015 a quantidade de casos diminuiu mais de 17%.

“Esse número é bastante significativo. Embora não possamos afirmar que essa redução é resultado da aprovação da lei, acreditamos que a discussão, divulgação e o processo de sensibilização da sociedade brasileira em torno da temática e da atualização do marco legal tenham contribuído para este fato”, ressalta Marcia Oliveira.

Por Natália Ortega

Nossas fontes: Evelyn Eisenstein médica e professora adjunta de Pediatria e Clínica de Adolescentes, coordenadora da disciplina de Adolescência no Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Juliana Galano, psicóloga Infantil e mestre em Ciências aplicada à Pediatria
Marcia Oliveira, coordenadora da Campanha Nacional “Não Bata, Eduque”
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Este conteúdo é publicado na revista NA MOCHILA e compartilhado pelo Programa Escolas do Bem, do Instituto Noa.

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